Thaís Nicoleti https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br Sun, 25 Jul 2021 11:00:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Meu neologismo favorito https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2021/07/01/meu-neologismo-favorito/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2021/07/01/meu-neologismo-favorito/#respond Thu, 01 Jul 2021 17:03:39 +0000 https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/Dicionário-Aurélio-Fábio-Braga-25-set-15-Folhapress15593559805cf1e24cb7977_1559355980_3x2_lg-320x213.jpg https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=1624 Uma palavra nova, inventada, começa a circular na língua aqui e ali e, depois de uma espécie de fase de testes, é incorporada ao léxico ou descartada, condenada ao esquecimento, quando não ao uso particular de um falante ou de um grupo. Em geral, é a inclusão em dicionários que atesta a entrada do neologismo no léxico da língua, uma forma de reconhecimento de sua vitalidade.

Nossos leitores aceitaram uma provocação para interagir com a Folha, que os convidava a dizer qual era o seu neologismo predileto. Como não poderia deixar de ser, não faltou quem se lembrasse do repertório novo surgido com a pandemia de Covid-19, que, por um deles foi chamado de covidioma.

Lá estão arrolados covidário (já usado por médicos para fazer referência à ala de pacientes de Covid-19) e as invenções covidar (pegar a doença/ Fulano covidou), descoronar (desinfetar com sentido específico de livrar do coronavírus/ Fulano descoronou as compras), clorokiller e cloroquiner – estes últimos, mesclas das sílabas iniciais de “cloroquina” com elementos da língua inglesa, têm uso ligado especificamente ao contexto brasileiro de enfrentamento da pandemia pelo governo e, por certo, dispensam explicação.

Covidário a alguns incomoda pela associação com os antigos “leprosários”, que eram estabelecimentos onde permaneciam isolados os pacientes de lepra (hoje hanseníase) quando a doença não tinha cura. O sufixo “-ário”, nesse caso, apenas indica a ideia de coleção, como, de resto, em apiário, serpentário, ranário etc. O exemplo é bom porque mostra um dos processos de criação de palavras: o uso de sufixos preexistentes na língua associados a novos radicais.

Em covidioma, temos um caso de composição, com dois radicais justapostos (Covid + idioma), outro processo bastante fecundo de criação. As formas verbais, é bom que se diga, sempre pertencem à primeira conjugação (terminada em “-ar”), que é a única fértil no momento atual da língua, aparecendo também no sufixo “-izar”. Assim se explicam covidar, descoronar e outros verbos que surgiram na enquete.

Verbos: sempre da primeira conjugação

Uma leitora nos diz que, no lugar da expressão “fazer xixi”, da linguagem infantil, ela emprega xixizar. Outro de nossos amigos gosta mesmo é de pitacar, coisa que ele diz fazer diariamente no site da Folha: ele dá seus “pitacos” e passa o seu recado! “Pitaco”, como todos sabemos, é aquele palpite que se dá numa conversa. No dicionário “Houaiss”, embora com ressalva, aventa-se a hipótese de que esse termo de uso informal tenha origem no nome de Pítaco, um antigo sábio da Grécia!

Entre os verbos, apareceram mariar (agir como Maria?) e baleiar, usado por um grupo de frequentadores da Barra do Sahy, no litoral norte de São Paulo, que costumava caminhar pelo areal até a vizinha praia da Baleia, momento de descontração e de conversas sobre vários assuntos. O termo funciona dentro de um grupo fechado, sendo, portanto, menos um neologismo propriamente dito que uma gíria. Segundo a leitora que o enviou, o verbo guarda sinonímia com a expressão fazer uma Baleia.

Formação erudita

Fazendo uso de elementos gregos de composição (“poli-” + “agn-”), um leitor nos disse usar o termo poliagno para se referir a uma pessoa multi-ignorante. É ele quem explica: “É o contrário de ‘polímata’, que é o indivíduo que sabe de vários assuntos. O ‘poliagno’ desconhece vários assuntos”. “Poli-” indica multiplicidade, e “agn-”, ignorância.

Sabor popular

Mais frequentes que os termos de feição erudita, chegaram a nós aqueles de sabor popular. É o caso de enjolanca, que o leitor diz ouvir do pai “e de mais ninguém” (um modo de dizer que algo é “muito enjoado”) e devolança, que seria a “volta”, a “resposta” (é do leitor o exemplo de uso: “Bolsonaro não comprou as vacinas e agora nas urnas virá a devolança”).

Composições criativas

A política tem dado grande estímulo à criatividade das pessoas. Têm surgido várias palavras expressivas, algumas muito bem-humoradas, caso de embaixapeiro, que já veio no formato de verbete de dicionário, com definição e tudo (“palavra que designa o sujeito que supõe ter aptidão para ocupar um cargo diplomático por ter já desempenhado a função de fritador de hambúrguer”), e de intelijumento (“o mais esperto entre os menos espertos”), ambas de um mesmo autor.

Uso particular

Comprofodência também chega à maneira de verbete: “Substantivo abstrato feminino. Sinônimo de ‘simancol’, bons modos, temperança. Adjetivo: comprofodente. Uso: Fulano tem uma postura bastante comprofodente”. Provavelmente de uso particular, o termo parece nascer da junção de vários outros. Formação similar dá-se em menosquência, que, segundo o autor, sugere capacidade de discernimento (“Isso é falta de menosquência; que absurdo, que lapso de menosquência!”).

Gíria

Uma leitora diz gostar muito da gíria tals, que é uma espécie de plural irregular do pronome demonstrativo “tal”, com valor de “etc.”: “Estou mergulhada naquele projeto, numa revisão difícil, e-mails por responder e tals”. A graça, naturalmente, está nesse plural com mero acréscimo de “s” ao “l” final. É a desobediência à regra de flexão que assinala o uso gírio.

Efeito semelhante vem de taqueopariu, enviado por outra pessoa: a criatividade vem da junção dos termos e da supressão da sílaba inicial de “puta”, cujo traço semântico se apagou, restando ao termo apenas o valor interjetivo.

Panguar também apareceu no rol de preferências dos leitores: o termo da linguagem popular (“ficar/estar de bobeira”, à toa, perdendo tempo, enganado, iludido) já aparece no “Dicionário Informal” na expressão “tá panguando”, de origem desconhecida.

Referências intelectuais

Alguns leitores trouxeram palavras inspiradas em leituras e outras referências. Foi esse o caso de gogolização, termo derivado do nome do escritor russo Nikolai Gogol, autor da célebre obra “O Inspetor-Geral”, na qual um impostor se passa pelo inspetor-geral de uma província russa e procede às mais ridículas situações.  Nosso leitor diz usar o termo “para qualificar o total desmantelamento da ética, da seriedade e da qualidade dos cargos de confiança do governo”.

Acabativa foi lembrado por outro leitor, que atribui sua criação ao consultor de empresas Stephen Kanitz, em clara analogia com “iniciativa”. Segundo o conferencista, não basta ter iniciativa; é preciso terminar os projetos iniciados. Esse termo ilustra outro processo de formação do neologismo, que é a analogia.

O termo quimiscritor, já inventado e associado a Primo Levi, químico e escritor, foi lembrado por outro leitor. Outro ainda se recordou do neologismo criado pelo ensaísta libanês (radicado nos Estados Unidos) Nassin Nicholas Taieb, que cunhou a forma antifragile – em português, antifrágil – que nomeia um conceito filosófico. Novos conceitos, novos objetos, novas realidades precisam de novos nomes. Esse é, por assim dizer, o caso típico de surgimento de neologismo.

Referências literárias: à moda de Guimarães Rosa

O maior criador de palavras da literatura brasileira foi, sem dúvida, João Guimarães Rosa, autor de “Grande Sertão: Veredas”, entre muitos outros livros bem conhecidos do público. Vários leitores se lembraram do escritor, tendo um deles escolhido desexistir, que aparece na sua obra máxima: “Dia da gente desexistir é um certo decreto – por isso que ainda hoje o senhor aqui me vê” ).

Outros trouxeram termos que, como se vê, até poderiam ter saído de uma página de algum de seus escritos: desver  (hoje usado nas redes sociais, quando queremos esquecer uma imagem inconveniente), desendoidar (busca de atividades na tentativa de não enlouquecer neste período de pandemia), desbolsonarizar (“Em 2022, será mais que necessário ‘desbolsonarizar’ o Brasil), disconcordar, desler (o último já usado por Paulo Leminski, no poema “Ler pelo Não” –  “Desler, tresler, contraler,/ enlear-se nos ritmos da matéria,/” – e pelo psicanalista Ricardo Goldenberg, na obra “Desler Lacan”), repiorar e desasnificar. Este último veio de leitora que diz tê-lo criado em associação à imagem do Burro Falante (personagem de Monteiro Lobato), com o sentido de “buscar instrução para afastar o rótulo de burrice, inteirar-se de determinados assuntos para não passar vexame entre amigos”. Vale dizer que os dicionários registram o termo “desasnar”, no sentido de dar instrução (especialmente as primeiras noções), instruir-se, adquirir conhecimentos básicos de um oficio, ou corrigir equívoco.

O verbo “descomer” também apareceu, como referência a Ariano Suassuna, que o emprega no “Auto da Compadecida”, mas, segundo o dicionário “Houaiss”, esse termo, de uso informal, tem registro desde 1882, não sendo, portanto, um neologismo. O mesmo ocorre com “esperançar”, palavra que nos chegou como criação do saudoso educador Paulo Freire, que, de fato, o empregou, mas não foi seu autor (o registro mais antigo do termo é de 1789).

Neologismos dicionarizados

Outros leitores resgataram neologismos que, embora tenham perdido o frescor da estreia, ainda são percebidos como tais. É esse o caso do adjetivo imexível, criado por Antônio Rogério Magri, ministro do Trabalho do governo Collor de Mello (1990). O uso do termo (no sentido de o governo “não pretender ‘mexer’ nas regras da caderneta de poupança”) foi objeto de grande polêmica na imprensa até ganhar a defesa do filólogo Antônio Houaiss, que o registrou em seu dicionário.

Outro termo que já se tornou familiar é o popular panelaço, lembrado por uma leitora, que o escolheu por gostar “tanto do som da palavra como do efeito”. Cabe lembrar que o sufixo “-aço”, normalmente associado a aumentativo (amigaço, mulheraço), aparece nesse caso ligado à ideia de quantidade, análogo a “buzinaço”.

Ressignificado

Houve um leitor que disse ter predileção pela palavra textículo, que acredita ser de sua própria lavra. O termo é comum na linguagem informal como diminutivo de “texto”, em possível analogia jocosa com “testículo”. Nosso leitor, no entanto, adverte de que o significado do termo é, para ele, “texto pequeno e ridículo”. Sua analogia particular dá-se, portanto, com “ridículo”. A ressignificação de um termo preexistente também é um processo neológico.

Tabuísmo e ativismo

Recebemos ainda “estelarmente”, que não é um neologismo, mas um advérbio derivado do adjetivo “estelar” (relativo a “estrela”), rebosteio, da linguagem popular tabuística, e, ainda, todxs, cujo uso foi defendido como forma de respeitar as pessoas que não se identificam com nenhum dos gêneros – e, talvez sem perceber, em sua justificativa, a pessoa que o enviou faz uso de um dos neologismos mais frequentes nas redes sociais: “E pedir que compreendam quem usa não é ‘mi-mi-mi’, é garantir a liberdade de expressão, liberdade sexual e liberdade que um ser tem sobre si”. “Mi-mi-mi”, cuja grafia deve ser com os hifens, ilustra outro processo de criação de palavras, a onomatopeia, ou seja, a imitação de um som. É uma modernização do proverbial “nhe-nhe-nhem”, formado pelo mesmo processo.

Candidato à dicionarização

Finalmente, citado por mais de um leitor, o vocábulo bolsomínion é um candidato à dicionarização, dada a frequência do uso e o significado razoavelmente bem definido. Formado das primeiras sílabas do sobrenome do presidente da República (Bolsonaro), seguidas da palavra “minion”, do inglês, que significa “lacaio”, “seguidor servil”, o termo está na boca do povo. Note que o uso do acento fica aqui como sugestão de aportuguesamento da palavra, que, de resto, é uma paroxítona terminada em “n”.

PS- Agradecemos a todas as pessoas que participaram da interação com a Folha. 

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Títulos ambíguos e títulos enigmáticos https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2021/04/29/titulos-ambiguos-e-titulos-enigmaticos/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2021/04/29/titulos-ambiguos-e-titulos-enigmaticos/#respond Thu, 29 Apr 2021 11:00:13 +0000 https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/Blake-Bailey-NYT-1619104403608192933bd1e_1619104403_3x2_lg-320x213.jpg https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=1589 Um dos problemas típicos de textos jornalísticos, embora não só deles, é o uso de construções sintáticas ambíguas. Por que será que isso acontece?

Por um lado, é sempre um desafio criar um título sintético e chamativo que caiba no espaço destinado a ele. Caber é um dado importante e, às vezes, definidor de uma escolha. Essa é uma imposição da diagramação, que, não raro, põe o redator em palpos de aranha; a dificuldade, embora atenuada na versão online, nunca está de todo afastada. É por essas e também por outras que as ambiguidades nem sempre são percebidas no momento em que são produzidas.

Por outro lado, há estruturas da língua que predispõem ao risco da ambiguidade. É esse o caso dos pronomes possessivos de terceira pessoa (seu, sua, seus suas). Para ilustrar o problema, vale observar um título publicado na edição impressa do último dia 28 de abril (página B12):

 

 

O pronome possessivo “sua”, associado ao substantivo “obra”, pode remeter o leitor tanto ao biógrafo, como se desejava, como ao escritor Philip Roth. Vale notar que, como se está falando do biógrafo, em tese, é a ele que se refere o pronome, mas o contexto permite a segunda leitura.

Os pronomes possessivos de terceira pessoa, de fato, oferecem esse risco, daí a preferência de certos órgãos da imprensa pelas formas “deles” e “delas”. É disso, aliás, que fala Caetano Veloso quando, em sua canção “Língua”, nos sugere que “ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo”.

O título acima, no entanto, nada ganharia com a substituição de “sua obra” por “obra dele”, como se pode perceber, motivo pelo qual nunca fiz coro com recomendações generalizantes e abstratas do tipo “nunca use x”, “substitua x por y”. Convém considerar que o termo “obra”, aqui usado em referência a um livro (a biografia de Roth), é, por excelência, o termo empregado para tratar do conjunto da produção de um artista, sobretudo quando este já morreu. Certamente, essa escolha lexical contribui para a ambiguidade.

Mais um fator favorece a leitura indevida do título acima: o verbo “mudar”. Poderíamos imaginar que a circunstância em questão “muda” a leitura de quem conhece a obra de Roth. Lemos a obra de um modo e agora, à luz das revelações, nós a leremos de outro. Tal interpretação é reforçada pelo fato de ainda não termos tido acesso ao livro do biógrafo – se não o lemos, como a denúncia “mudaria” nossa leitura?

Alguns poderiam argumentar que, obviamente, a vida do biógrafo não influi na interpretação da obra do biografado. A esses recomendo reler com atenção o subtítulo (entre os jornalistas chamado de “linha fina”), em que se informa que as denúncias contra o biógrafo podem respingar no biografado, o que será explicado no decorrer do texto.

Vemos, portanto, que o título continha um problema. O fato de, em alguma medida, serem possíveis as duas interpretações (as denúncias mudam a leitura da biografia ou mudam a leitura da obra de Roth) só piora a situação, pois, se a intenção fosse dizer as duas coisas, isso deveria ser feito com clareza.

Diante da situação, tomou-se a decisão de reformular o título na versão online. Sendo sua parte (mais) problemática o trecho “sua obra”, optou-se pelo seguinte:

Saber se biógrafo de Philip Roth estuprou alguém muda a leitura

De ambíguo o título passou à categoria de enigmático, pois agora simplesmente não se sabe de que leitura se está falando: leitura de quê? O substantivo “leitura”, nesse caso, pede um complemento. O termo prescinde de complemento quando tomado em sentido geral, ou seja, como uma prática (O estímulo à leitura é muito importante nos anos iniciais da escola).

Não nos passa despercebida outra mudança nesse título: substituiu-se, em boa hora, o substantivo “estuprador” por “estuprou alguém”. Esse ponto é mais delicado, pois o referido biógrafo, Blake Bailey, foi acusado, mas ainda não foi julgado, o que nos aconselha a não tachá-lo de “estuprador” – por mais que ele nos pareça merecdor da alcunha. Proponho aqui duas alternativas ao título original e também à sua segunda versão, sabendo, de antemão, que nossos leitores poderão ter ideias melhores:

Biografia de Philip Roth é posta em questão depois de acusação de estupro contra seu autor

Biografia de Philip Roth terá leitura influenciada por acusação de estupro contra seu autor

Quem quiser propor outra redação para o título deixe seu comentário!

 

 

 

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O mistério da grafia de ‘intubação’ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2020/05/13/o-misterio-da-grafia-de-intubacao/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2020/05/13/o-misterio-da-grafia-de-intubacao/#respond Wed, 13 May 2020 19:52:00 +0000 https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/Blog-Intubação.jpg https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=1490 Em meio ao noticiário da pandemia, tem sido recorrente uma questão de ortografia que talvez em outro momento passasse despercebida. Ganha frequência e importância o uso dos termos “intubar” e “intubação”, cujo “i” inicial parece um enigma para alguns leitores. Por que não “entubar” e “entubação”?

É possível que muita gente associe o prefixo “i(n/m/r)-” apenas à ideia de negação (legal/ ilegal, feliz/ infeliz, provável/ improvável, real/ irreal etc.). Ocorre, porém, que o prefixo “i(n/m)-”, entre outros sentidos, também pode indicar movimento para dentro, caso em que se opõe ao prefixo “e(x)-”, como atestam, por exemplo, os seguintes pares opositivos: interno/ externo, importar/ exportar, imigrar/ emigrar, imergir/ emergir, incluir/ excluir, inclusivo/ exclusivo, inspirar/ expirar, intubar/ extubar, intubação/ extubação.

Em resumo, usa-se o prefixo “i-” com dois sentidos, o de negação (útil/ inútil, legível/ ilegível) e o diretivo, cuja origem está no advérbio-preposição do latim “in”.  Este último tem o sentido básico de “entrada”, ou seja, de movimento para dentro (inserir), que pode ser ampliado para o de aproximação (inerente), de hostilidade, esta entendida como um tipo de aproximação (insurgir), ou mesmo para o de avesso, tipo específico de movimento para dentro (inverter), e ainda para o de mudança de estado (intumescer).

Esse segundo “in-”, denotador de movimento para dentro, está na origem da variante popular “en-”, que nos dá um grande número de termos, entre os quais o próprio verbo “entrar” (do latim “intrare”). É também essa variante a que mais aparece nas formações que indicam mudança de estado (entardecer, envelhecer, enfastiar-se, endividar-se, ensandecer) – diga-se, aliás, uma formação com grande fertilidade na língua hoje, capaz de gerar neologismos.

Quem chegou até aqui já observou que o par in-/en-, pelo menos em alguns casos, sugere a oposição erudito/ popular. É por isso que certos termos iniciados por “in-”, calcados na forma latina, não têm o sentido tão claro para o falante do português.

No âmbito da medicina, a tendência é optar pelas formas eruditas (infarto/ infartar em vez de enfarte/ enfartar; intubar/ intubação em vez de entubar/ entubação). Vale lembrar que o latim é a principal fonte da nomenclatura científica internacional.

Existem, em português, com direito a registro em dicionários, as formas “entubar” e “entubação”, que são variantes populares de “intubar” e “intubação”. Ocorre, porém, que as grafias com “e-” inicial apresentam outros significados para além do sentido médico de introduzir tubo na traqueia para criar uma passagem de ar.

“Entubar” também quer dizer “dar formato de tubo” (Ele entubou a folha de papel), “entrar no tubo e nele surfar” (O surfista vai entubar aquela onda?) e ainda, na condição de tabuísmo, “manter coito anal”.

Em inglês, o termo é “intubation”; em italiano, é “intubazione”; em espanhol, “intubación”; em francês, “intubation”; em holandês, é “intubatie”; em romeno, “intubatie”; em dinamarquês, “intubation”; em alemão, “intubation”. Enfim, todos remetem ao latim.

Dicionários como “Houaiss” e “Priberam” admitem as duas grafias (intubação e entubação), “Aulete” (em versão eletrônica) revisou seu verbete original “intubação” e passou a admitir “entubação”. “Aurélio”, em sua quinta edição, distingue “entubar” (dar feição de tubo a) de “intubar” (Med. introduzir cânula na traqueia de), não admitindo, como se vê, a forma “entubar” no sentido médico.

Essa oposição, que o “Aurélio” reforça, é a mesma que se mantém no par incubar/ encubar. “Incubar” é chocar (incubar ovos) ou possuir em estado latente (incubar vírus, incubar ideias); “encubar” é “recolher em cuba” (encubar o vinho). Quanto a esses termos, os dicionários estão todos de acordo: “incubar” é uma coisa e “encubar” é outra.

Quanto a “impostar” e “empostar”, esta segunda já se fixou como variante da primeira, que é idêntica à grafia italiana (impostar a voz). “Intitular” continua com “i”, sem variante reconhecida em dicionários.

Vemos, portanto, que, em alguns casos, “in-” e “en/m-” são apenas variantes, que sinalizam uso erudito ou popular, mas, em outros, levam a termos de diferentes significados. A escolha de “intubação” pela Folha reflete a escolha feita no âmbito da medicina.

PS. As aspas simples (no lugar das aspas duplas) do título são empregadas por razões técnicas, alheias à vontade da autora. Sabemos que esse não é o uso correto em língua portuguesa, mas assim o fazemos para que o texto não perca a configuração em determinados dispositivos. Agradecemos a compreensão.

 

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Uma conversa (gramatical) sobre laranjas https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2019/02/19/uma-conversa-gramatical-sobre-laranjas/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2019/02/19/uma-conversa-gramatical-sobre-laranjas/#respond Tue, 19 Feb 2019 05:09:31 +0000 https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Bolsonaro-laranja-320x213.jpg https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=1339 O termo “laranja” tem estado nas páginas da Folha nas últimas semanas em razão de uma série de reportagens que vêm descortinando um esquema, usado pelo PSL, para fazer uso fraudulento das verbas públicas do fundo partidário por meio de candidaturas de fachada.

Como não poderia deixar de ser, a palavra em si despertou a curiosidade do leitor. Os dicionários há algum tempo registram o termo na acepção de “homem tolo, ingênuo”. Houaiss atualizou esse sentido, acrescentando o traço de “indivíduo nem sempre ingênuo, cujo nome é utilizado por outro na prática de diversas formas de fraudes financeiras e comerciais, com a finalidade de escapar do fisco ou aplicar dinheiro de origem ilícita”.

Essa acepção fundamenta a expressão “candidato laranja” (ou mesmo o substantivo composto “candidato-laranja”), ainda que a criatividade dos políticos quando o assunto é fraude esteja a pedir novas atualizações lexicográficas. Do ponto de vista morfológico, vale notar que o segundo elemento (“laranja”) é um substantivo que atua como determinante específico, exatamente como “fantasma” em “conta fantasma” (ou “conta-fantasma”).

“Laranja”, nesse caso, não diz respeito à cor e talvez nem mesmo à fruta. Exatamente por não se tratar de cor, não se sujeita à concordância dos substantivos que nomeiam cores, os quais permanecem invariáveis.

Quem não se lembra das bicicletas laranja  do projeto Bike Sampa? Muito bem. Quando se refere à cor (cor de laranja), de fato, o substantivo “laranja”, usado como adjetivo, permanece invariável. Bicicletas laranja é o mesmo que bicicletas cor de laranja. Vale ainda lembrar que, mesmo quando identifica uma cor, “laranja” pode ter plural, o que ocorrerá caso seja usado no sentido de “tons de laranja” (Na decoração, usou com parcimônia os laranjas e os vermelhos).

Que não se confunda “laranja” na acepção de cor com “laranja” na acepção de indivíduo que se presta à prática de diversos tipos de fraude. Este último é um substantivo e, como tal, tem flexão de número.

Ainda que, à semelhança de “empresa-fantasma”, sejam admitidas as grafias com hífen e sem hífen, sendo o segundo elemento um determinante específico, é mais seguro o uso do composto com hífen, de modo que não paire dúvida sobre as possibilidades de flexão.

O substantivo composto candidato-laranja, por ser formado de dois elementos variáveis, admite o plural candidatos-laranjas. Podendo o segundo substantivo ser interpretado como um elemento que limita o anterior, é também lícita a flexão apenas do primeiro elemento do composto (candidatos-laranja).

Quanto às candidaturas em si, o ideal é que se diga que são candidaturas de laranjas, ou seja, candidaturas de indivíduos ingênuos – ou não necessariamente ingênuos – que emprestam a própria identidade a outros para fins ilícitos.

A concordância parece ser mais fácil de resolver do que aquilo que mais espicaça a curiosidade do leitor, ou seja, a origem do termo. Por que, afinal, o nome de uma fruta tão saborosa assumiu esse sentido pejorativo?

Hipótese sobre a origem do termo

As várias hipóteses que andam pela internet não parecem mais que fruto da imaginação e, de tão fantasiosas, não se sustentam. Não é difícil que o atual sentido de “laranja” seja uma extensão do sentido anterior de “indivíduo tolo, otário”, dado que este se deixa usar por alguém mais esperto.

O que permanece incógnito é o elo entre o simplório, tolo, aparvalhado e a laranja. A meu ver, enquanto estivermos em busca de uma associação semântica com a fruta, dificilmente sairemos do atoleiro da dúvida.

As pessoas tendem a esquecer-se de que a língua tem outros mecanismos de criação de palavras para além das analogias e metáforas, embora estas sejam talvez os mais frutíferos.

Convido o leitor que tiver paciência a fazer um raciocínio um pouco diferente, baseado, é claro, em comportamentos observáveis na língua. Aviso aos mais sensíveis que terei de usar alguns termos de baixo calão a fim de explicitar o meu raciocínio.

Para lançar mão de exemplos facilmente acessíveis na memória, vamos, de início, ao termo “paca”, usado, na linguagem popular, no sentido de “grande quantidade” ou de intensidade (Fulano fala paca!), que, segundo o próprio Houaiss, nasce de uma alteração de natureza eufêmica (própria de eufemismo) das expressões chulas “para caralho” ou “para cacete”, ambas também empregadas como intensificadores. A forma “paca” ameniza o tabuísmo, o mesmo valendo para as expressões “para caramba”, com uso da interjeição de espanto de origem espanhola, e “para cachorro” (Fala para caramba! Fala para cachorro!). Pergunta-se: o que é que caralho, cacete, caramba e cachorro têm de comum? Todas têm três sílabas, são paroxítonas e iniciadas pela sílaba “ca-”. Pareceu estranho?

O leitor se lembrará por certo de ter ouvido ou dito a interjeição “cacilda!” diante de uma situação de espanto, admiração ou impaciência. Se procurar saber quem foi a tal Cacilda que deu origem à expressão, é provável que não chegue a lugar algum. Por outro lado, se observar a semelhança entre cacilda e cacete, estará no rumo certo. A semelhança formal faz que se use um termo no lugar de outro com transferência de significado, mais uma vez evitando o uso do palavrão.

O recurso não é nada novo na língua: “diacho”, por exemplo, é uma alteração de “diabo”, que, em outros tempos, era palavra a evitar. Muito bem. E o laranja? Onde é que ele entra nessa história?

A hipótese que podemos formular nessa linha de raciocínio é que, de início, se tenha usado o termo “laranjão”, com o sufixo “-ão” de aumentativo com matiz afetivo (o mesmo que ocorre em toleirão, parvalhão, bobalhão, paspalhão, bestalhão etc.) e que esse termo se tenha confundido com o informal “janjão”, que, embora não esteja nos dicionários regulares, aparece definido no Dicionário Informal  como “um cara abestalhado e lento para entender as coisas de uma forma geral, fácil de ser ludibriado”, o que demonstra ter existência na língua.

Ainda mais curioso é lembrar que Janjão é o nome de um personagem do conto “Teoria do Medalhão”, de Machado de Assis, que, ao atingir a maioridade, ouve do pai uma série de conselhos sobre o melhor caminho a seguir para ter sucesso na vida. O conto é uma das joias do bruxo do Cosme Velho, que, sob a forma de um diálogo, põe em cena um jovem e seu pai, a este cabendo encarnar a sua incansável veia irônica.

O termo “medalhão”, hoje meio fora de moda, descreve, de modo pejorativo, o indivíduo que obteve fama e que passou a viver em função disso ou, mais especificamente, um indivíduo de “infundada notoriedade” (Houaiss).

O Janjão de Machado de Assis é o protótipo do sujeito anódino, medíocre, que, por isso mesmo, na visão do próprio pai, tem toda a disposição para se tornar um verdadeiro “medalhão”:

Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício. Não me refiro tanto à fidelidade com que repetes numa sala as opiniões ouvidas numa esquina, e vice-versa, porque esse fato, posto indique certa carência de ideias, ainda assim pode não passar de uma traição da memória. Não; refiro-me ao gesto correto e perfilado com que usas expender francamente as tuas simpatias ou antipatias acerca do corte de um colete, das dimensões de um chapéu, do ranger ou calar das botas novas. Eis aí um sintoma eloquente, eis aí uma esperança, No entanto, podendo acontecer que, com a idade, venhas a ser afligido de algumas ideias próprias, urge aparelhar fortemente o espírito. As ideias são de sua natureza espontâneas e súbitas; por mais que as sofreemos, elas irrompem e precipitam-se. Daí a certeza com que o vulgo, cujo faro é extremamente delicado, distingue o medalhão completo do medalhão incompleto.

O sentido dado a “janjão”, somado à semelhança fônica com “laranjão” parece trazer uma pista. Teríamos ainda de entender por que “laranjão”, sendo válida a hipótese, teria recuado para “laranja”. Esse, no entanto, não seria o maior dos problemas.

Veja-se, para tanto, o que ocorreu com o nome da doença chamada “sarampão”. Popularmente percebido como aumentativo (embora não o fosse), o termo, por derivação regressiva, recuou para um suposto grau positivo na forma que se consagrou: sarampo. E hoje pode até parecer estranho dizer que “sarampo” veio de “sarampão”.

Pode-se dizer que algo semelhante, embora não idêntico, ocorreu com o termo “lanterninha”, claramente um diminutivo de “lanterna”. Era desse modo que se chamavam os funcionários das salas de cinema que, com uma pequena lanterna, ajudavam os retardatários a encontrar um lugar para se sentar depois que o filme já tinha começado e as luzes estavam apagadas. Quem precisava do lanterninha era quem chegava atrasado. Está talvez aí a origem do uso do termo para fazer alusão ao que chega em último lugar num campeonato esportivo. Detalhe: nessa acepção, as pessoas passaram a usar o termo no grau positivo (lanterna), rechaçando o sufixo de diminutivo, novamente num processo de derivação regressiva.

E mais: o termo “lanterna”, nesse sentido, já não está restrito à área esportiva, embora predomine nesse campo. Veja este exemplo, que, aliás, nos reconduz ao laranjal da política: “Outra candidata campeã de dinheiro do PSL, mas lanterna de votos, é Mila Fernandes. Teve 334 votos a deputada federal”.

Ora, se a hipótese for válida, “janjão”, por semelhança fônica, terá resultado em “laranjão” (com sufixo “-ão”, de matiz afetivo) e este terá regredido a um grau positivo, tendo passado a “laranja”(como sarampão > sarampo). Assim: janjão > laranjão > laranja.

Ainda que não tenhamos nenhuma comprovação disso – daí estarmos aqui falando meramente em hipótese –, o raciocínio pode servir para lembrar que parte do fascínio da língua está nas surpresas que ela põe no caminho de quem se dedica ao seu estudo.

 

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Acentuação e concordância intrigam leitor https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/02/23/acentuacao-e-concordancia-intrigam-leitor/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/02/23/acentuacao-e-concordancia-intrigam-leitor/#comments Tue, 23 Feb 2016 22:56:12 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=931 Nosso leitor Elisio Neves, com toda a razão, ficou intrigado com os textos de duas fotos, que gentilmente enviou ao blog. Na primeira delas, o que está em jogo é a acentuação gráfica; na segunda, um interessante caso de concordância verbal.  final o leitor quer saber

O olho atento a todas as manifestações da língua é uma ótima maneira de estudar. Na internet, não faltam pessoas que publicam fotos de erros gramaticais em tabuletas e cartazes com a intenção de fazer piada. Aqui vamos usar o material enviado pelo leitor para discutir a língua.

 

 

 

Vejamos a primeira delas:

LAMA SÊCA OU LAMA SECA?
LAMA SÊCA OU LAMA SECA?

 

A esta altura ainda há quem grafe “sêca”, assim, com acento?

Elísio nos lembra que a palavra “seca”, sendo uma paroxítona terminada em “a”, não poderia ter acento. De fato, é isso mesmo. Se as oxítonas terminadas em “a”, “e”, “o”, “em” e “ens” recebem acento, as paroxítonas que têm essa mesma terminação não o recebem.  É por isso que sofá, balé, quiproquó, vintém e parabéns têm acento, mas seca, balde, carro, homem e itens não o têm.

Nesse caso específico, porém, é possível que a pessoa que assim grafou a palavra ainda guarde na memória a época em que o termo tinha acento diferencial (distinguia-se “sêca”, substantivo, de “seca”, forma do verbo “secar”), antes da reforma ortográfica de 1971.

Nessa época, também se distinguia “côco” (a fruta) de “coco” /ó/ (bactéria). O acento desapareceu há 45 anos, mas ainda dá o ar da graça nas barraquinhas e carrinhos de vendedores de água de coco.

CARRINHO DE COCO

Há quem tente justificar essa tendência pelo fato de a palavra ser formada de duas sílabas iguais, mas há outros casos que se enquadrariam nesse tipo de percepção e que nem por isso fizeram aparecer acentos inúteis. Ninguém acentua “baba”, que aparece no doce “baba de moça”, “meme”, o neologismo do mundo das redes sociais, ou “Momo”, o rei do Carnaval, não é mesmo?

Outros dizem que o acento evita confusão com “cocô” (!). Essa palavrinha, sim, recebe o acento, já que é uma oxítona, certo?

No nosso país, existe certo apego pela grafia das palavras, como se elas fossem indissociáveis do nome em si. No caso dos nomes próprios, isso é muito visível, pois as pessoas podem decidir se querem escrever Carlos ou Karlos, Luiz ou Luís, sem considerar as normas de ortografia. Até os topônimos ficam imunes às regras da ortografia. Basta observar os sites das prefeituras Brasil afora ou adentro.

A segunda questão apresentada por Elisio Neves diz respeito à concordância verbal da frase que se lê no cartaz abaixo:

CONCORDÂNCIA CORRETA

CONCORDÂNCIA CORRETA

Ele pergunta se estaria incorreta a concordância verbal nesse cartaz, uma vez que o verbo está no singular (“causa”) e o sujeito é composto.

Se o sujeito fosse mesmo composto, a frase estaria incorreta. O que temos, entretanto, é um sujeito oracional, que equivale a um sujeito simples. O que causa inundação nos dias de chuva é “jogar lixo e entulho”. O núcleo desse sujeito é a ação de “jogar”, um verbo. É por isso que dizemos que o sujeito é oracional. A oração “jogar lixo e entulho” funciona como sujeito de “causar”. “Lixo” e “entulho” são núcleos do objeto direto de “jogar” e fazem parte do sujeito oracional. Por esse motivo, não há erro no cartaz acima.

Se você quiser enviar uma questão ou material para ser comentado no blog, entre em contato pelo e-mail thaisncamargo@uol.com.br.

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Leitora quer saber como empregar o hífen em nomes de cores https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/01/31/leitor-quer-saber-como-empregar-o-hifen-em-nomes-de-cores/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/01/31/leitor-quer-saber-como-empregar-o-hifen-em-nomes-de-cores/#comments Mon, 01 Feb 2016 00:15:16 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=924 Na São Paulo das ciclovias, logo se tornaram conhecidas as bicicletas laranja que certa instituição financeira distribuiu pela cidade para uso da população. São bicicletas cor de laranja ou simplesmente bicicletas laranja. Note que, nesse caso, a palavra “laranja” fica invariável.final o leitor quer saber

É o mesmo que ocorre com os sacos de lixo usados para a reciclagem de materiais: há os sacos verdes e os sacos cinza. Não se usa o plural em “cinza” porque esse é um substantivo que designa uma cor. Em outras palavras, antes de ser nome de cor, “cinza” nomeia o resultado de um processo de combustão (as cinzas de um cigarro, as cinzas de um corpo cremado).

Muito bem. Como vemos, há nomes que exprimem as cores propriamente ditas e outros que tomamos emprestados daquilo que geralmente nomeiam.  Quando dizemos azul, verde, vermelho, amarelo, preto, branco ou cinzento, estamos pensando em palavras que apenas nomeiam cores; quando, porém, dizemos laranja, limão, rosa, violeta, gelo ou cinza, podemos estar ou não nos referindo a cores. Em caso afirmativo, queremos dizer que algo tem a cor da laranja, a cor do limão, a cor da rosa etc.

Podemos empregar a expressão “cor de” antes desses substantivos, de modo a tornar explícito que estamos aludindo à sua cor (cor de cinza, cor de laranja, cor de abóbora etc.), mas nem sempre o fazemos.

Na prática, aquelas cores às quais se pode antepor a expressão “cor de” são representadas por termos invariáveis. Assim: camisas (cor de) gelo e paletós (cor de) violeta. Sim, “violeta” é o nome de uma flor, donde um paletó violeta é um paletó que tem a cor dessa flor.

Não é outro o motivo de dizermos “raios ultravioleta”, sem plural no adjetivo “ultravioleta”, este resultante do prefixo “ultra-” anteposto ao substantivo “violeta”.

O LEITOR QUER SABER

Uma de nossas leitoras gostaria de entender melhor o emprego do hífen em nomes de cores representados por adjetivos compostos.

Há que lembrar, desde já, que os adjetivos “claro” e “escuro” geralmente se prendem por meio de hífen ao nome da cor: verde-claro, verde-escuro, cinza-claro, cinza-escuro. Esses termos são facilmente encontráveis em dicionários.

Quanto à sua flexão, há uma particularidade: quando nomeiam a cor em si, são substantivos compostos e ambos os seus elementos sofrem as flexões de gênero e número; quando indicam a cor de algo, são adjetivos compostos e, nesse caso, somente o seu último elemento sofre essas flexões.

Assim, “verdes-escuros” é o plural do substantivo composto “verde-escuro”, enquanto “verde-escuros” é o plural do adjetivo composto “verde-escuro”.

Na prática, teremos situações como as seguintes:

Os verdes-escuros harmonizam-se com seu tom de pele. [os tons de verde-escuro/ substantivo]

Os olhos verde-escuros da moça destacavam-se sob a luz. [cor dos olhos/ adjetivo]

Chegando agora à questão específica de nossa leitora: que fazer quando estamos diante de cores descritas como “azul acinzentado”, “castanho acobreado” etc.? Devemos usar o hífen ou não?

A leitora já consultou os dicionários e não encontrou a resposta. De fato, não há uma forma “oficialmente correta”, o que abre espaço para interpretações à luz dos princípios vigentes.

Podemos tratar os termos especificadores “ acinzentado” e “acobreado” (entre outros possíveis) da mesma forma como tratamos os adjetivos “claro” e “escuro”. Nesse caso, usaremos o hífen e obedeceremos às regras de concordância. Assim:

Os castanhos-acobreados combinam com seu tom de pele. [os tons de castanho-acobreado)

Ela tem cabelos castanho-acobreados. [flexão apenas do último elemento do adjetivo composto]

A outra opção seria, naturalmente, não empregar o hífen, o que resultaria em frases como as seguintes:

O azul acinzentado do céu prenunciava a chuva.

Os azuis acinzentados predominavam nas telas do pintor.

Nesses casos, “acinzentado” adjetiva o substantivo “azul” sem integrar-se ao nome da cor. Sem o hífen, a expressão ganha algum grau de subjetividade, funcionando o segundo elemento como uma tentativa de descrever o tom de azul. O hífen, por sua vez, faz parecer que se trata de uma cor assim conhecida e facilmente identificável pelo leitor. Vemos, portanto, que a opção por não empregar o hífen nesse caso está respaldada em escolhas de natureza estilística.

Vejamos outro caso, que pode ajudar a compreender o processo:

Azuis luminosos contrastavam com vermelhos vibrantes.

Nesse exemplo, “luminosos” e “vibrantes” são qualidades atribuídas às cores, não tonalidades das cores. Nesse tipo de situação, vemos que o hífen é totalmente dispensável. “Luminosos” e “vibrantes” são adjetivos que exprimem um juízo acerca da realidade observada.

Nos casos anteriores, porém, castanho-acobreado e azul-acinzentado, nos quais o segundo elemento indica uma tonalidade, o sinal é perfeitamente cabível, ressalvada alguma intenção estilística.

No dicionário “Houaiss”, embora não haja verbetes para cores modificadas dessa maneira, existem exemplos da escolha do autor, por exemplo, na explicação do verbete “turquesa”, em que se lê: “mineral triclínico, isomorfo da calcossiderita, de cor azul, verde-azulada ou verde-amarelada, usado como gema e em objetos ornamentais”.

 

 

 

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O mistério do flá-flu https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/o-misterio-do-fla-flu/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/o-misterio-do-fla-flu/#comments Thu, 07 Jan 2016 21:39:39 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=913 Com as redes sociais, é inegável que houve um aumento da comunicação escrita entre as pessoas. Isso, entretanto, não quer dizer que tenha havido uma busca de expressão mais sofisticada, fruto de reflexão.

Não pretendo aqui tratar do muito que se fala sem pensar, das interpretações apressadas de um texto ou da distorção das ideias alheias, motivo de brigas e linchamentos virtuais. final o leitor quer saber

Aparentemente, existe outro fenômeno em curso, que, aliás, também tem alguma relação com a falta de reflexão. As pessoas estão escrevendo exatamente como falam ou ouvem, apenas transpondo a fala para o registro escrito.

Uma consequência disso, entre outras mais desastrosas (já viram a grafia “concerteza”?), é que se passa a escrever palavras que antes pertenciam vagamente a um “vocabulário oral”, se é que se pode dizer isso, fazendo surgir inusitadas oscilações de grafia e até acalorados debates sobre a forma correta de escrever um termo ou outro.

Recentemente, foi a forma flá-flu que suscitou discussões, com direito a todo tipo de “argumento”.

Antes de tratar da grafia em si, vale dizer que o termo ganhou as redes sociais em razão de seu sentido figurado. Da rivalidade entre os times de futebol Flamengo e Fluminense, passou a designar outros embates entre grupos, todos marcados por fortes ataques de parte a parte. É fato que quase todos os temas que passam pelas redes caem na divisão entre os da banda de cá e os da banda de lá, os amigos e os inimigos, os coxinhas e os petralhas e o que mais o maniqueísmo simplificador permitir.

Em suma, todo conteúdo opinativo parece acabar reduzido à irracionalidade das querelas entre torcidas de futebol. Daí a proliferação do emprego do termo – até mesmo para criticar essa divisão, que já vem fazendo amigos de longa data brigarem.

Muito bem. A grafia de flá-flu (fla-flu, flaflu ou Fla-flu?) parece também estar suscitando uma “flaflulização” (?) do debate sobre ortografia.

“Flá”, uma redução de Flamengo ou de flamenguista, é um monossílabo tônico terminado em “a”, exatamente como “má” (feminino de “mau”), “pá”, “chá”, “dá” (forma do verbo “dar”) e os advérbios “cá” e “lá” – para ficar em alguns poucos exemplos formalmente similares. Tem até registro nos dicionários “Aurélio” e “Houaiss”.

“Flu”, por sua vez, é um monossílabo tônico terminado em “u”, como “nu” e “cru”. Os terminados em “i” e “u” não têm acento; os terminados em “a”, “e” e “o” o têm. Nos compostos ligados por hífen, cada elemento mantém seu acento. É o caso de “má-criação” e de “má-fé”, por exemplo.

Pode dar-se o caso de faltar uma memória visual da palavra escrita de acordo com as regras ortográficas vigentes, o que leva muita gente a estranhar o acento. A regra, porém. é bem antiga na língua portuguesa. Não se trata de nenhuma inovação trazida pelo Acordo Ortográfico de 1990, como podem pensar alguns dos seus detratores, sobretudo os que o criticam sem conhecê-lo a fundo.

“Flá-flu”, com acento no “flá” e sem acento no “flu”, é mera aplicação da regra. Sem mistério.

 

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Crase em título jornalístico suscita dúvida entre leitores https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2015/09/13/crase-em-titulo-jornalistico-suscita-duvida-entre-leitores/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2015/09/13/crase-em-titulo-jornalistico-suscita-duvida-entre-leitores/#comments Sun, 13 Sep 2015 13:15:44 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=834 É comum algum leitor questionar a ausência do acento indicador de crase em títulos publicados no jornal. Certamente haverá casos em que a Redação terá cometido um deslize, mas, na maior parte das vezes, tratando especificamente dos títulos, o problema é outro.     final o leitor quer saber

Antes de prosseguir, não custa lembrar que a crase (do grego “Krasis”, “fusão”) é um fenômeno fonético de fusão de sons vocálicos, que, no português atual, ocorre sobretudo quando a preposição “a” antecede um artigo “a” (ou “as”).

O acento grave serve para assinalar a ocorrência desse fenômeno, portanto, para empregá-lo corretamente, é necessário perceber a presença de dois “aa”.

Dito isso, observemos uma manchete que esteve na “home” do site da Folha:

Brasil escolhe “Que Horas Ela Volta?” para concorrer a vaga no Oscar

Um filme pode concorrer a um prêmio, certo? O verbo “concorrer”, de fato, constrói-se com um complemento introduzido pela preposição “a”. Como todos nós, em algum momento, aprendemos que ocorre crase antes de palavra feminina, seria muito fácil “ligar o piloto automático” e acentuar o “a” de “concorrer a vaga no Oscar”.

Se fizéssemos isso, porém, estaríamos afirmando que só existe uma “vaga” no Oscar e que o referido filme estaria concorrendo a ela. Existem cinco “vagas”, ou seja, cinco obras disputarão o Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro. “Que Horas Ela Volta?” foi a escolha do Brasil para concorrer a uma dessas “vagas”.

Teria sido possível empregar um artigo indefinido (para concorrer a uma vaga no Oscar/ a uma das vagas), mas, nos títulos jornalísticos, frequentemente se opta pela simples omissão do artigo definido. Quando isso ocorre diante de palavra masculina, ninguém se queixa da falta de um artigo (vamos imaginar que o título fosse “Brasil escolhe filme para concorrer a prêmio”), mas, diante do termo feminino, surge a dúvida.

Outro título que suscitou questionamento foi este:

Haddad e FHC mantêm diálogo e chegam a ir juntos a ópera

O caso é semelhante. O jornalista usou “ópera” como gênero musical, como poderia ter usado “concerto” (Haddad e FHC mantêm diálogo e chegam a ir juntos a concerto). Vão juntos a um concerto, não importa qual, portanto sem o artigo definido – o mesmo vale para a ópera, certo?

Sem artigo, sobra apenas um “a”, a preposição, portanto não ocorre a crase.

Essas construções configuram o que se poderia chamar de estilo jornalístico.

Quem lê jornal está habituado a títulos como “Dólar passa de R$ 3,90”, “Lobista aceita fazer delação premiada” etc. Note que “dólar” e “lobista”, que estão no centro da notícia, que são seu foco, aparecem despidos de artigos. Ao mesmo tempo, os verbos das afirmações estão no tempo presente. Com esse recurso, o jornalista chama a atenção do leitor para um fato novo (tempo presente) e ainda não conhecido do leitor (sem artigo).

Isso não significa que não haja situações, mesmo nos títulos, em que o artigo é necessário e não pode ser suprimido. 🙂

 

 

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Fulano, beltrano e… sicrano https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2014/06/06/fulano-beltrano-e-sicrano/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2014/06/06/fulano-beltrano-e-sicrano/#comments Fri, 06 Jun 2014 23:01:17 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=637 ilustracao-para-materia-de-brigas-nas-redes-sociais-1401916226004_615x300 (1)

A imagem ao lado ilustrava um texto sobre comportamento na internet, publicado numa das páginas do portal UOL.

Não demorou muito até que alguém questionasse o uso da palavra “ciclano”. O fato é que, embora se ouça com alguma frequência essa forma, o termo que usamos para substituir o nome de uma pessoa, depois de “fulano” e “beltrano”, é “sicrano”.

Sua origem é controversa e mesmo bons etimologistas se abstêm de arriscar uma explicação definitiva sobre ela. O fato é que “fulano” vem do árabe e significa “um certo”, “determinado”, enfim, algo próximo do nosso pronome indefinido “alguém”.

A vantagem de usar “fulano” é que se pode mencionar na mesma sequência um “segundo fulano”, então por meio da palavra “beltrano”, cuja origem costuma ser atribuída ao nome próprio Beltrão, e um “terceiro”: o “sicrano”.

Obras de referência, como dicionários, costumam indicar a ordem “fulano, beltrano e sicrano”. De fato, ninguém usará “beltrano” ou “sicrano” sem antes ter mencionado “fulano”. Tudo indica que a terminação “-ano” desses termos tenha derivado do final da palavra “fulano”, à qual elas necessariamente se seguem. final o leitor quer saber

Vale observar que esses são termos expressivos, próprios da linguagem oral, o que torna ainda mais difícil descobrir a sua origem. Seja como for, o “fulano” faz tanto sucesso na linguagem informal que já ganhou flexão de gênero (fulana) e até de grau (fulaninho),  acentuando-se nesses casos o caráter pejorativo que o uso lhe vem emprestando. Há quem dê ao fulano um sobrenome (fulano de tal) e há ainda quem derive dele um verbo.

Já existe registro do termo “fulanizar”, que se emprega para dizer que  alguém atribui nome ou identificação a pessoas de início indeterminadas ou cuja identificação não interessa para discutir uma questão. Tomemos como exemplo uma discussão sobre o tema da corrupção em que um dos debatedores cite pessoas acusadas de ter cometido esse tipo de delito e o outro diga que não gostaria de “fulanizar” o debate, com isso querendo dizer que  não gostaria de mencionar nomes ou de mencionar casos concretos associados a uma ou outra pessoa em particular. O verbo, por sua vez, dá origem ao substantivo “fulanização” – e assim a língua continua seu processo de renovação.

 

 

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“A”, “há” ou nenhuma das anteriores https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2014/05/07/a-ha-ou-nenhuma-das-anteriores/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2014/05/07/a-ha-ou-nenhuma-das-anteriores/#comments Wed, 07 May 2014 21:20:57 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=616 Uma de nossas leitoras enviou uma interessante questão sobre o emprego de  “a” ou “há” em determinado enunciado. Ela precisava formular a seguinte sentença: “O veículo precisa estar sem sinal de GPS a (ou há?) mais de dois dias para ser colocado em quarentena”. Nesse caso, pergunta ela, seria cabível empregar a preposição “a” ou a forma verbal “há”?   final o leitor quer saber

É preciso considerar, em primeiro lugar, que a forma “há”, do verbo “haver”, indica tempo decorrido. Por esse motivo, são corretas construções como as seguintes: “Estou aqui há mais de dois dias”, “Trabalha na empresa há dez anos“, “Esteve em Berlim há dois anos” etc. A preposição “a”, por sua vez, pode indicar distanciamento, até mesmo quando associada à ideia de tempo. Veja-se, por exemplo, uma expressão como “daqui a pouco”, na qual a preposição “a” assinala um intervalo (de um ponto a outro, de um momento a outro). Como é fácil perceber, o intervalo não configura tempo decorrido, portanto não seria possível empregar nessa situação a forma do verbo “haver”.

Da mesma forma, é a preposição “a” que usamos em construções como “A dois meses do início da Copa do Mundo” (dois meses antes do início) ou “A duas semanas do jogo” (duas semanas antes do jogo). Note que não se trata de tempo decorrido, mas, ao contrário disso, de um tempo futuro.

A frase enviada pela leitora rigorosamente não comporta nenhuma dessas duas formas. A preposição “a” logo seria descartada, pois não há demarcação de intervalo (como há em “de domingo a terça-feira”) nem projeção de tempo futuro (como há em “a dois meses da Copa”). A forma do verbo “haver”, por sua vez, poderia parecer, ao menos à primeira vista, ser a melhor solução, já que indica duração. Ocorre, no entanto, um problema: o tempo verbal da frase. Caso o verbo principal estivesse no presente do indicativo,  teríamos o seguinte: “O veículo está há mais de dois dias sem sinal de GPS” ou ainda “Faz mais de dois dias que o veículo está sem sinal de GPS”.

Na sentença original, porém, não seria adequado empregar a forma “há”, pois a situação ainda não se concretizou e, consequentemente, o tempo não decorreu. Para fazer a ligação entre os elementos (falta de sinal de GPS + tempo de mais dois dias), é necessário empregar uma preposição que indique apenas a ideia de duração (sem a ideia de “passado”). Veja uma sugestão: “Para ser posto em quarentena, o veículo deve estar sem sinal de GPS por mais de dois dias”. 

 

 

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