Thaís Nicoleti https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br Sun, 25 Jul 2021 11:00:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Leitores podem conferir teste rápido de acentuação https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/08/16/leitores-podem-conferir-teste-rapido-de-acentuacao/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/08/16/leitores-podem-conferir-teste-rapido-de-acentuacao/#comments Tue, 16 Aug 2016 05:00:45 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=1086 A forma mais fácil de lidar com a mudança na ortografia é aprender, passo a passo, cada caso. A regra do ditongo aberto mudou, o que não significa que o acento de todos os ditongos abertos tenha sido eliminado.

Antes bastava que uma palavra tivesse em sua sílaba tônica (a mais forte) um dos ditongos abertos (-éi, -éu, -ói) para que o acento gráfico fosse usado. Adão portugues em focoO acento indicava, além da tonicidade, o timbre (grau de abertura) da vogal.

Nas palavras paroxítonas, verifica-se pronúncia não tão aberta entre os falantes do português europeu. Tanto isso é verdade que, em Portugal, esse acento não era usado mesmo antes do Acordo de 1990.

Para fazer a unificação ortográfica, o caminho mais simples era retirar o acento do ditongo aberto das paroxítonas, que existia no português do Brasil.

Os ditongos de fim de palavra (os das oxítonas) e os dos monossílabos tônicos mantiveram-se, pois, nesses casos, não há divergência de pronúncia. Assim: chapéu, céu, pastéis, carretéis, lençóis, faróis, ilhéus, dói, mói, rói, sói etc.

Perdem o acento as paroxítonas cuja sílaba tônica seja um ditongo aberto, desde que sejam palavras antes acentuadas apenas por esse motivo.

É esse o caso de geleia, estreia, assembleia, paranoico, opioide, asteroide, humanoide, joia, boia etc., mas não é o caso de destróier e Méier, cujo acento, embora repouse sobre o ditongo aberto, lá está para marcar a pronúncia paroxítona das palavras terminadas em “-r”.

Abaixo, as respostas do teste rápido de acentuação gráfica:

TESTE RÁPIDO

Caso haja erro quanto à acentuação, segundo a nova ortografia, substitua o termo incorreto pelo correto.

  1. Esses campos de atuação têm diferentes papeis no currículo, a depender do nível de escolaridade. (ERRADO)

RESPOSTA: papéis manteve o acento, pois o ditongo aberto cai na última sílaba.

  1. É verdade que tu ainda rois as unhas? (ERRADO)

RESPOSTA: róis, forma do presente do indicativo da segunda pessoa do singular do verbo “roer”, mantém o acento por ser um monossílabo tônico.

  1. Após a fase de instalação do apiário, o apicultor deverá preocupar-se em realizar o manejo eficiente de suas colmeias para que consiga ter sucesso na atividade. (CERTO)

RESPOSTA: a grafia está correta, pois o ditongo de colmeias cai na penúltima sílaba.

  1. Os quelóides diferem das cicatrizes normais por sua textura mais espessa e por ultrapassar os limites da cicatriz. (ERRADO)

RESPOSTA: queloides perdeu o acento, pois o ditongo aberto cai na penúltima sílaba (sufixo “-oide”).

  1. Opiáceos e opióides são importantes fármacos utilizados no tratamento da dor. (ERRADO)

RESPOSTA: opioides perdeu o acento, pois o ditongo aberto cai na penúltima sílaba (sufixo “-oide”).

  1. Paranóia é um termo utilizado por especialistas em saúde mental para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou injustificada. (ERRADO)

RESPOSTA: o ditongo de paranoia cai na penúltima sílaba, portanto a palavra perde o acento gráfico.

  1. A fim de evitar uma irregularidade que o STF entende causadora de nulidade absoluta, convém estender à defesa dos corréus a faculdade já conferida à defesa do interrogando e ao órgão acusatório de formular reperguntas. (CERTO)

RESPOSTA: corréus manteve o acento, pois o ditongo aberto cai na última sílaba da palavra.

  1. Espero que vós aluguéis o imóvel o mais rápido possível. (ERRADO)

RESPOSTA: na frase acima, deve ser empregada a forma alugueis, sem acento, por tratar-se de conjugação do verbo “alugar”. Aluguéis, com acento, é o substantivo (Cobrou os aluguéis atrasados).

  1. Manifesto: Eu apoio a legalização do aborto (CERTO)

RESPOSTA: O apoio /ô/ e eu apoio /ó/ não têm distinção gráfica. Em eu apoio, o ditongo aberto cai na penúltima sílaba, portanto perde o acento.

  1. Por isso, acreditamos que é um momento fundamental para que a sociedade se abra para debates francos, livres de hipocrisias, encarando com responsabilidade a triste sina a que são condenadas as brasileiras pobres, de um país que historicamente abandona as mulheres à própria sorte, sem acesso à informação, apoio e serviços e sem direito de decidir sobre a maternidade. (CERTO)

RESPOSTA: O apoio /ô/ e eu apoio /ó/ não têm distinção gráfica. Em o apoio, o ditongo é fechado, portanto nunca recebeu acento gráfico.

 

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Acento do ditongo aberto ainda causa dúvida https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/08/10/acento-do-ditongo-aberto-ainda-causa-duvida/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/08/10/acento-do-ditongo-aberto-ainda-causa-duvida/#comments Wed, 10 Aug 2016 05:00:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=1079 Uma de nossas leitoras sugeriu o tema deste Português em Foco, o acento do ditongo aberto depois do Acordo Ortográfico de 1990. Adão portugues em foco

Parece até estranho dizer que o acordo é de 1990, já que entrou em uso somente em 2009, mas é essa a realidade. Toda essa demora esteve ligada ao fato de se tratar de um acordo de unificação ortográfica, o que é diferente de “reforma ortográfica”. Como qualquer outro acordo, depende da anuência das partes, o que, em geral, só ocorre depois de muita conversa.

Toda alteração na ortografia oficial das palavras tende a provocar algum grau de rejeição, afinal as pessoas acham que terão de reaprender todo o sistema, mas a verdade é que as mudanças costumam ser gradativas, portanto não chegam a ser traumáticas.

http://mais.uol.com.br/view/15955489

DITONGO ABERTO

No português do Brasil, os ditongos de palavras como assembleia e estreia são “abertos”, o que não se verifica na pronúncia portuguesa, que, conquanto não chegue a ser totalmente fechada, também não é totalmente aberta nesses casos.

Com o acordo de unificação ortográfica, deixamos de acentuar graficamente o ditongo aberto das paroxítonas (aquele que cai na penúltima sílaba da palavra): geleia, Coreia, Pompeia, Águas de Lindoia etc. Assim, heroico (paroxítona) perde o acento, mas herói (oxítona) não.

Não é difícil concluir que as palavras terminadas em “-oico”, todas elas (estoico, paranoico etc.), perdem o acento gráfico. O mesmo vale para as terminadas em “-oide” (ovoide, androide, espermatozoide, factoide etc.), porque o ditongo aberto “oi” está na penúltima sílaba delas.

DESTRÓIER

Vale notar que “destróier” e “Méier” (bairro do Rio de Janeiro) mantiveram o acento do ditongo aberto, mesmo sendo paroxítonas. Isso ocorreu porque o motivo do acento desses termos não é a abertura do ditongo, mas, sim, a terminação em “-r” (paroxítonas terminadas em “-r”, como revólver, mártir, caráter etc.).

OXÍTONAS

É bom lembrar que as palavras oxítonas (aquelas cuja sílaba tônica é a última) terminadas em ditongo aberto continuam acentuadas. É o caso de chapéu, solidéu, caracóis, pastéis, lençóis etc. Muitas vezes, esses ditongos aparecem seguidos de “s”, pois estão no plural de palavras oxítonas terminadas em “-el” (pastel – pastéis, aluguel — aluguéis, hotel — hotéis etc.).

DIMINUTIVOS

No diminutivo plural, os ditongos não são acentuados (como já não o eram antes do Acordo). Assim: pasteizinhos, lençoizinhos, aneizinhos etc., pois o ditongo dessas palavras não está na sua sílaba tônica. Nada mudou quanto a isso.

MONOSSÍLABOS

Quanto aos monossílabos, também não houve mudança. Nas palavras de uma só sílaba, o ditongo aberto continua acentuado: céu, réu, mói, rói, dói etc.

CURIOSIDADES

Em razão da mudança ocorrida na regra de hifenização, a antiga grafia “co-réu” passou a “corréu”, que, pelo acento, se distingue de “correu” (forma do verbo “correr”).

O substantivo apoio e a forma verbal apoio (eu apoio), conquanto se pronunciem de modo diferente, escrevem-se exatamente da mesma forma.

A forma verbal sois (vós sois) não tem acento gráfico, mas o plural de sol (sóis) tem, pois é um monossílabo tônico com ditongo aberto. Esse plural aparece no verso de Camões “Porém já cinco sóis eram passados” (“Os Lusíadas”).

NOMES E FORMAS VERBAIS

Algumas formas, como alugueis, bordeis, fieis, papeis, pasteis etc., quando escritas sem acento, leem-se com o “e” fechado /ê/. Tais palavras são formas verbais da segunda pessoa do plural (vós) do presente do subjuntivo. Assim: que vós alugueis (alugar), que vós bordeis (bordar), que vós fieis (fiar), que vós papeis (papar), que vós pasteis (pastar).

Na condição de nomes (substantivos/ adjetivos), são lidas com o “e” aberto /é/ e recebem o acento gráfico normalmente. Assim: aluguéis atrasados, bordéis interditados, fiéis ao credo, papéis trocados, pastéis de nata.

TESTE RÁPIDO

Caso haja erro quanto à acentuação, segundo a nova ortografia, substitua o termo incorreto pelo correto. As respostas serão publicadas na próxima terça-feira.

  1. Esses campos de atuação têm diferentes papeis no currículo, a depender do nível de escolaridade.
  2. É verdade que tu ainda rois as unhas?
  3. Após a fase de instalação do apiário, o apicultor deverá preocupar-se em realizar o manejo eficiente de suas colmeias para que consiga ter sucesso na atividade.
  4. Os quelóides diferem das cicatrizes normais por sua textura mais espessa e por ultrapassar os limites da cicatriz.
  5. Opiáceos e opióides são importantes fármacos utilizados no tratamento da dor.
  6. Paranóia é um termo utilizado por especialistas em saúde mental para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou injustificada.
  7. A fim de evitar uma irregularidade que o STF entende causadora de nulidade absoluta, convém estender à defesa dos corréus a faculdade já conferida à defesa do interrogando e ao órgão acusatório de formular reperguntas.
  8. Espero que vós aluguéis o imóvel o mais rápido possível.
  9. Manifesto: Eu apoio a legalização do aborto
  10. Por isso, acreditamos que é um momento fundamental para que a sociedade se abra para debates francos, livres de hipocrisias, encarando com responsabilidade a triste sina a que são condenadas as brasileiras pobres, de um país que historicamente abandona as mulheres à própria sorte, sem acesso à informação, apoio e serviços e sem direito de decidir sobre a maternidade.

 

 

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O caso do tríplex e do triplex https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/03/11/o-caso-do-triplex-e-do-triplex/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/03/11/o-caso-do-triplex-e-do-triplex/#comments Sat, 12 Mar 2016 00:24:26 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=962 Alguns leitores têm procurado a Folha para questionar o uso do acento na palavra “tríplex”, que consideram inadequado ou mesmo errado. final portugues na folha

Os argumentos dessas pessoas, alguns embalados em julgamentos do tipo “usar tríplex é tosco” ou “usar tríplex é mico”, em geral estão apoiados no fato de outros veículos da imprensa terem optado pela grafia triplex, que reflete a pronúncia oxítona, semelhante à de palavras como durex ou pirex.

Estas últimas, é bom que se diga, não chegaram ao português pelo latim, como aquela. São antes marcas comerciais que passaram a designar o objeto que fabricam, também chamadas “marcas genéricas”.

“Pyrex”, do inglês, sofreu alteração de grafia em português, tendo o “y” substituído por um “i”. A marca passou a designar qualquer recipiente de vidro refratário. “Durex”, a fita adesiva,  também é marca comercial. “Sedex”, por sua vez, o serviço de entregas dos Correios, é uma sigla de Serviço de Encomenda Expressa Nacional.

Antes de prosseguir, gostaria de deixar claro que as marcas mencionadas não são patrocinadoras do blog, muito menos da autora do texto. São mencionadas por serem todas muito conhecidas e, graças à sua aparente semelhança com palavras de origem latina, poderem ter influenciado a pronúncia de “tríplex” ou “dúplex” como oxítonas.

São poucas as palavras do português terminadas em “x”: látex, cálix, sílex, vórtex, dúplex, tríplex, multíplex, símplex, apêndix, cóccix, cérvix, ônix, hélix são algumas delas. Note que são todas paroxítonas e algumas delas têm uma variante terminada em “-ice”.

“Látex”, por exemplo, tem a variante “látice”, mas esta é bem menos usada que a primeira. Aliás, muita gente ainda pronuncia “látex” como oxítona (latex), ignorando o seu acento gráfico. Basta, no entanto, verificar a grafia da palavra no rótulo das latas de tinta de parede. Lá estará o acento de “látex”, apesar de ainda persistir a pronúncia popular “latex” (oxítona).

Grosso modo, pode-se dizer que “cálix” é menos usada que “cálice”, “sílex” é mais comum que “sílice”, “vértice” é mais frequente que “vértex”, “hélice” é mais usada que “hélix” e “apêndice” ganha a preferência sobre “apêndix”.

Como numerais, “dúplex” e “dúplice” alternam-se, e o mesmo vale para “tríplex” e “tríplice”. Como substantivo e adjetivo, prevalecem as formas “dúplex” e “tríplex”. Os leitores inconformados com a palavra que lhes soa de modo estranho alegam que ninguém diz “tríplex”. Se isso for mesmo verdade, o argumento não será desprezível, mas as coisas não são tão simples assim.

O outro argumento envolve os dicionários. Enquanto um leitor atribui à Folha certa subserviência acrítica ao que registra o dicionário “Houaiss”, quando, em vez disso, “deveria seguir o Vocabulário Ortográfico da ABL, pois a ABL é que manda”, outro afirma que o “Houaiss” traz a palavra sem acento.

O fato é que tanto os dicionários “Houaiss” e “Priberam” como o “Vocabulário Ortográfico”, da Academia Brasileira de Letras, registram as duas formas, “tríplex” (com acento) e “triplex” (sem acento).

A forma “triplex” (sem acento), aparentemente a mais comum nos textos de propaganda do mercado imobiliário, é registrada no “Houaiss”, mas seguida da advertência de que é uma forma não preferível de “tríplex” (com acento).

Menos condescendente, o “Aurélio” nem mesmo registra a forma sem acento – no verbete “tríplex”(com acento), observa que a palavra é comumente pronunciada como oxítona.  Na mesma linha, vai o “Aulete”, que, todavia, é bem menos sutil: só registra “tríplex” (com acento) e acrescenta que o termo se pronuncia erroneamente como oxítono.

A conclusão disso tudo é que cada veículo de comunicação fez a sua escolha. A Folha optou pelo respeito à norma-padrão do idioma, o que costuma ser apreciado pela maioria dos leitores, para os quais o jornal tem também uma função educativa. No mínimo, um mérito da escolha está em propiciar ao leitor o interesse em conhecer mais e melhor a nossa língua.

 

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O mistério do flá-flu https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/o-misterio-do-fla-flu/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/o-misterio-do-fla-flu/#comments Thu, 07 Jan 2016 21:39:39 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=913 Com as redes sociais, é inegável que houve um aumento da comunicação escrita entre as pessoas. Isso, entretanto, não quer dizer que tenha havido uma busca de expressão mais sofisticada, fruto de reflexão.

Não pretendo aqui tratar do muito que se fala sem pensar, das interpretações apressadas de um texto ou da distorção das ideias alheias, motivo de brigas e linchamentos virtuais. final o leitor quer saber

Aparentemente, existe outro fenômeno em curso, que, aliás, também tem alguma relação com a falta de reflexão. As pessoas estão escrevendo exatamente como falam ou ouvem, apenas transpondo a fala para o registro escrito.

Uma consequência disso, entre outras mais desastrosas (já viram a grafia “concerteza”?), é que se passa a escrever palavras que antes pertenciam vagamente a um “vocabulário oral”, se é que se pode dizer isso, fazendo surgir inusitadas oscilações de grafia e até acalorados debates sobre a forma correta de escrever um termo ou outro.

Recentemente, foi a forma flá-flu que suscitou discussões, com direito a todo tipo de “argumento”.

Antes de tratar da grafia em si, vale dizer que o termo ganhou as redes sociais em razão de seu sentido figurado. Da rivalidade entre os times de futebol Flamengo e Fluminense, passou a designar outros embates entre grupos, todos marcados por fortes ataques de parte a parte. É fato que quase todos os temas que passam pelas redes caem na divisão entre os da banda de cá e os da banda de lá, os amigos e os inimigos, os coxinhas e os petralhas e o que mais o maniqueísmo simplificador permitir.

Em suma, todo conteúdo opinativo parece acabar reduzido à irracionalidade das querelas entre torcidas de futebol. Daí a proliferação do emprego do termo – até mesmo para criticar essa divisão, que já vem fazendo amigos de longa data brigarem.

Muito bem. A grafia de flá-flu (fla-flu, flaflu ou Fla-flu?) parece também estar suscitando uma “flaflulização” (?) do debate sobre ortografia.

“Flá”, uma redução de Flamengo ou de flamenguista, é um monossílabo tônico terminado em “a”, exatamente como “má” (feminino de “mau”), “pá”, “chá”, “dá” (forma do verbo “dar”) e os advérbios “cá” e “lá” – para ficar em alguns poucos exemplos formalmente similares. Tem até registro nos dicionários “Aurélio” e “Houaiss”.

“Flu”, por sua vez, é um monossílabo tônico terminado em “u”, como “nu” e “cru”. Os terminados em “i” e “u” não têm acento; os terminados em “a”, “e” e “o” o têm. Nos compostos ligados por hífen, cada elemento mantém seu acento. É o caso de “má-criação” e de “má-fé”, por exemplo.

Pode dar-se o caso de faltar uma memória visual da palavra escrita de acordo com as regras ortográficas vigentes, o que leva muita gente a estranhar o acento. A regra, porém. é bem antiga na língua portuguesa. Não se trata de nenhuma inovação trazida pelo Acordo Ortográfico de 1990, como podem pensar alguns dos seus detratores, sobretudo os que o criticam sem conhecê-lo a fundo.

“Flá-flu”, com acento no “flá” e sem acento no “flu”, é mera aplicação da regra. Sem mistério.

 

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