Thaís Nicoleti https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br Sun, 25 Jul 2021 11:00:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Crase em título jornalístico suscita dúvida entre leitores https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2015/09/13/crase-em-titulo-jornalistico-suscita-duvida-entre-leitores/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2015/09/13/crase-em-titulo-jornalistico-suscita-duvida-entre-leitores/#comments Sun, 13 Sep 2015 13:15:44 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=834 É comum algum leitor questionar a ausência do acento indicador de crase em títulos publicados no jornal. Certamente haverá casos em que a Redação terá cometido um deslize, mas, na maior parte das vezes, tratando especificamente dos títulos, o problema é outro.     final o leitor quer saber

Antes de prosseguir, não custa lembrar que a crase (do grego “Krasis”, “fusão”) é um fenômeno fonético de fusão de sons vocálicos, que, no português atual, ocorre sobretudo quando a preposição “a” antecede um artigo “a” (ou “as”).

O acento grave serve para assinalar a ocorrência desse fenômeno, portanto, para empregá-lo corretamente, é necessário perceber a presença de dois “aa”.

Dito isso, observemos uma manchete que esteve na “home” do site da Folha:

Brasil escolhe “Que Horas Ela Volta?” para concorrer a vaga no Oscar

Um filme pode concorrer a um prêmio, certo? O verbo “concorrer”, de fato, constrói-se com um complemento introduzido pela preposição “a”. Como todos nós, em algum momento, aprendemos que ocorre crase antes de palavra feminina, seria muito fácil “ligar o piloto automático” e acentuar o “a” de “concorrer a vaga no Oscar”.

Se fizéssemos isso, porém, estaríamos afirmando que só existe uma “vaga” no Oscar e que o referido filme estaria concorrendo a ela. Existem cinco “vagas”, ou seja, cinco obras disputarão o Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro. “Que Horas Ela Volta?” foi a escolha do Brasil para concorrer a uma dessas “vagas”.

Teria sido possível empregar um artigo indefinido (para concorrer a uma vaga no Oscar/ a uma das vagas), mas, nos títulos jornalísticos, frequentemente se opta pela simples omissão do artigo definido. Quando isso ocorre diante de palavra masculina, ninguém se queixa da falta de um artigo (vamos imaginar que o título fosse “Brasil escolhe filme para concorrer a prêmio”), mas, diante do termo feminino, surge a dúvida.

Outro título que suscitou questionamento foi este:

Haddad e FHC mantêm diálogo e chegam a ir juntos a ópera

O caso é semelhante. O jornalista usou “ópera” como gênero musical, como poderia ter usado “concerto” (Haddad e FHC mantêm diálogo e chegam a ir juntos a concerto). Vão juntos a um concerto, não importa qual, portanto sem o artigo definido – o mesmo vale para a ópera, certo?

Sem artigo, sobra apenas um “a”, a preposição, portanto não ocorre a crase.

Essas construções configuram o que se poderia chamar de estilo jornalístico.

Quem lê jornal está habituado a títulos como “Dólar passa de R$ 3,90”, “Lobista aceita fazer delação premiada” etc. Note que “dólar” e “lobista”, que estão no centro da notícia, que são seu foco, aparecem despidos de artigos. Ao mesmo tempo, os verbos das afirmações estão no tempo presente. Com esse recurso, o jornalista chama a atenção do leitor para um fato novo (tempo presente) e ainda não conhecido do leitor (sem artigo).

Isso não significa que não haja situações, mesmo nos títulos, em que o artigo é necessário e não pode ser suprimido. 🙂

 

 

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Parir e dar à luz https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2012/12/11/parir-e-dar-a-luz/ https://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2012/12/11/parir-e-dar-a-luz/#comments Tue, 11 Dec 2012 20:10:47 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/?p=217 Hoje vamos sair um pouco do tema “reforma ortográfica”, embora tenhamos de voltar a ele depois. É que muita gente ainda tem dúvida sobre o uso da expressão “dar à luz” e, por isso mesmo, o assunto merece algumas palavras.

“Parir” é o nome que se dá à ação de expulsar o feto do útero. Embora signifique apenas isso, o seu uso para referir-se a seres humanos é considerado rude para muitas pessoas, que o reservam para os momentos de raiva ou de destempero, quando soltam aquele conhecido palavrão…

Disso resulta que o termo, em seu sentido estrito, tem sido mais usado para animais (“A gata pariu três lindos filhotes”), ainda que não haja problema algum em usá-lo para mulheres (“Fulana não foi feita para parir”).

No sentido figurado, “parir” pode significar “dar por terminado um trabalho difícil” (“O escritor finalmente pariu seu novo romance”), situação em que não há sentido pejorativo. É comum, entretanto, o uso da palavra para exprimir crítica ou desaprovação em construções do tipo “O diretor pariu um projeto sem relevância alguma” ou “O governo pariu mais uma medida provisória”.

Na prática, quando se trata do nascimento de bebês, existe clara preferência pela locução “dar à luz”, uma expressão de caráter metafórico, em que a luz é a vida, a claridade, o mundo iluminado.

Note que a mãe não dá a luz para o filho. É bom que se diga que ocorre o inverso: a mãe dá o filho à luz. É por esse motivo que ocorre crase no “a” que antecede a palavra “luz”. Esta é o núcleo do objeto indireto do verbo “dar”, enquanto o bebê é o núcleo do objeto direto (aquilo que é dado).

É por esse motivo que não ocorre uma preposição “a” antes de “bebê”, “filho” etc. Note que muita gente entende que a expressão é “dar à luz” (com “a” craseado), mas continua usando a preposição “a” depois de “luz” (!). Essa é a confusão mais frequente, responsável por construções (equivocadas) do tipo “deu à luz a gêmeos”. Nada disso. A mulher “deu à luz gêmeos” – agora sim –, pois deu dois filhos gêmeos para a luz, para o mundo.

 

 

 

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