O e-mail no mundo corporativo
Hoje é até difícil imaginar (ou lembrar) como era a nossa vida antes da internet e da agilidade do envio de mensagens pela rede. O fato é que, no mundo empresarial, a ferramenta não só facilitou a comunicação entre as pessoas como também trouxe alguns problemas.
Por um lado, expôs a dificuldade que muita gente tem ao empregar a língua na variante culta, apropriada para a comunicação formal, e, por outro, criou embaraços que beiram o universo da etiqueta: nem sempre as pessoas sabem ao certo como fazer um pedido, como dar uma ordem, como finalizar uma mensagem etc.
Antes da era do e-mail, havia fórmulas de correspondência, das quais alguns ainda devem recordar-se. Expressões como “por obséquio”, “sem mais para o momento, subscrevo-me”, “venho por meio desta”, “grato” etc., que hoje soam antiquadas, eram usadas com muita frequência — o ato de redigir uma carta era em si uma atividade formal. É claro que a formalidade ainda existe, mas a ausência de modelos fixos constantemente põe em questão a busca do tom adequado.
É evidente que uma expressão como “por obséquio” não foi banida da comunicação, mas pode soar artificial, desviando para si a atenção do leitor. A linguagem ideal não é a que parece artificial, distante da que se usa no dia a dia, mas aquela que “não aparece”, que é sóbria, sem afetação, ou seja, aquela que cumpre à risca o papel que deve cumprir na situação. “Por favor”, por exemplo, é simples e eficaz.
Terminar a mensagem com o advérbio “atenciosamente” é algo ainda bastante usado e correto. De uns tempos para cá, entrou na moda a abreviatura “att.”, do inglês, recomendável apenas para quem estiver escrevendo a sua mensagem inteira em inglês. Não há nada que justifique encerrar uma mensagem escrita em português com a abreviatura em inglês. E o pior: pode parecer afetação.
É um equívoco pensar que o uso de anglicismos, por si só, valoriza o texto. O melhor caminho ainda é a fluência na língua portuguesa e seu uso seguro na variante de padrão culto. O ideal é empregar uma linguagem limpa, impessoal e cordial, como, de resto, devem ser o ambiente de trabalho e o comportamento entre colegas.
Às vezes penso que o uso de anglicismos não é devido à vontade de valorizar o texto, mas à ignorância . Cada vez menos pessoas sabem que estão escrevendo um estrangeirismo. Já me propus a dar umas explicações de português a uma pessoa que não sabia mesmo diferenciar as coisas. E isso não é mais fato raro.
Prezada Professora Thaís,
Em primeiro lugar, gostaria de registrar que sou seu fã desde os tempos do Vestibulando.
Quanto ao texto acima, fiquei com uma dúvida sobre a correção da concordância de “deve ser o ambiente de trabalho e o comportamento entre colegas”. Sei que, em determinados casos, o verbo pode concordar com o sujeito mais próximo, mas nessa hipótese, não seria melhor “devem ser” em vez de “deve ser’?
Agradeço, desde já, mais esse ensinamento.
Abraço,
Cesar
Cesar, muito obrigada pela observação. Adianto que, quando o sujeito composto é posposto ao verbo, este pode concordar apenas com o núcleo mais próximo (algo do tipo “Chegou o pai e o filho”), mas, no meu caso, de fato, não foi uma opção. Considero ter sido mesmo um lapso, portanto fiz a correção. Abraços 🙂
Interessante o artigo, apesar de saber que algumas empresas estão ‘treinando’ os funcionários para escreverem de forma mais informal, quando enviarem mensagem.
Mas minha dúvida é quanto à abreviação “Att.” eu costumo ver abreviarem “Atte.,” assim estaria errado?
Ronaldo, o problema da abreviatura é estar em inglês, mas finalizando um texto escrito em português. Escrever de modo mais informal não é, em si, ruim. A linguagem não deve mesmo ser artificial. Abraços 🙂
Infelizmente é muito comum ver isso acontecer com jovens de cargos elevados. Como se tivessem sabotado as aulas de português.
Essa thaís é uma professora preciosa. Nota 10.