“Conselho de Classe”

Thaís Nicoleti

Tive a grata oportunidade de assistir ao espetáculo “Conselho de Classe”, encenado pela Cia. dos Atores no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Fui atraída pelo título da peça  — e não deu outra: a sensação de “déjà-vu”, de reconhecer aqueles personagens, foi imediata, mesmo tendo eu sido temalivreprofessora de escolas da rede privada e tendo a ação transcorrido numa escola pública.

Na plateia, adivinhavam-se professores, que ora riam (sim, os atores são mesmo muito bons e o roteiro é ágil e divertido), ora sorriam, oscilando entre a comoção de ver seus problemas retratados ali em reprodução fiel (teatral sem ser caricata) e a solidariedade a seus “colegas” da cena.

A caracterização dos personagens é parte da diversão: os atores são todos homens, que representam “professoras”. O único personagem masculino é o jovem diretor substituto, que chega a um conselho de classe esvaziado, com meia dúzia de gatos pingados, numa sala excessivamente quente, com ventilador quebrado e sem água.

Discutem-se ali com humor problemas sérios, que vão desde as condições de trabalho e do próprio prédio da escola até questões propriamente educacionais. A professora “sacoleira”, vendendo roupas, xampus ou cremes, é um personagem muito comum nas salas de professores, que, ali, no palco, mostra o quanto é patética a situação de um profissional que tem de “arredondar o salário” para fazer face às despesas. A professora que, já de idade avançada, sofre um ataque cardíaco dentro da escola  é outro desses tipos simbólicos que saíram da realidade para subir ao palco.

O texto da peça tem o grande mérito de levantar questões e de mostrar diversos pontos de vista sem puxar a brasa para nenhuma das sardinhas. O jovem diretor substituto, que conhece muito de educação, mas ainda na teoria (“pela internet”), vê sua empolgação com as teses norte-americanas e as soluções de escolas estrangeiras chocar-se com uma realidade diversa. É preciso mudar as coisas, mas não se pode dispensar o saber daquelas pessoas que passaram a vida na linha de frente, ou seja, os professores. Será da discussão honesta, que considere todas as partes envolvidas, que surgirão as soluções.

Infelizmente, termina amanhã, 16 d fevereiro de 2014, a temporada da peça “Conselho de Classe” no Sesc Belenzinho, em São Paulo. (E anda cada vez mais difícil conseguir um ingresso no nosso querido Sesc.). Sucesso à Cia. dos Atores!

 

Comentários

    1. Bom dia, a psicologia usa esse termo assim mesmo, em francês. Não conheço uma palavra que o traduza, mas, a título de explicação, pode-se dizer que é uma espécie de ilusão de memória que leva a pessoa a crer que já viu ou já vivenciou determinada situação. É claro que não usei o termo no sentido estrito da psicologia, como você pode perceber.Abraços, 🙂

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