Mudança na ordem dos termos evita duplo sentido
“Pê-efe ‘secreto’ do McDonald’s não vale o preço, como os lanches”
A frase foi título de uma crítica de gastronomia, publicada no caderno “Comida”, da Folha. À primeira vista, nenhum problema. Parece mesmo que o crítico, literalmente, “comeu e não gostou”.
O problema, percebido por algumas pessoas, está na segunda parte do enunciado, aquela iniciada pelo conectivo de comparação (“como”). Teria sido a intenção do autor estender a crítica aos lanches (nem o pê-efe nem os lanches valem o preço cobrado por eles) ou teria pretendido dizer que o pê-efe não vale o preço, como valem os lanches (os lanches valem, o pê-efe não)?
O texto que se segue a esse título, porém, não deixa dúvida de que, para o crítico, nem o pê-efe nem os lanches valem o preço que custam. Como, então, deixar isso claro já na chamada? A solução mais rápida (sempre haverá outras) seria fazer uma inversão da ordem dos termos. Note que, ao iniciarmos o período com o elemento comparativo, afastamos a ambiguidade. Veja:
Como os lanches, pê-efe “secreto” do McDonald’s não vale o preço
Por que será que isso acontece? O problema está na oração de verbo elíptico (subentendido) “como os lanches”. Posta no final do período, pode dar a entender tanto que o tal verbo elíptico está modificado pelo advérbio de negação quanto o contrário disso (vale/não vale); por outro lado, posta antes, seu significado será naturalmente idêntico ao da oração principal, portanto negativo, como queria o autor.
Excesso de zelo.
Também poderiamos entender que como o PF é caro, ele come os lanches.
Ótima dica! Você explica com muita clareza.
Um abraço.
Uma outra possível construção seria “Pê-efe ‘secreto’ do McDonald’s não vale o preço, ASSIM como os lanches”. Mas neste caso, poderia haver confusão de sentido se o leitor fizesse a leitura pensando no verbo comer, hehehe.
Encontrei no youtube 80 videos aulas de Gramatica do programa vestibulando, foi um prazer reve-la, acordava todas as manhãs para acompanhar suas aulas.
Manda o link para mim, Jorge. Como não posso ir, nesse momento, a São Paulo, assistir um curso da Thaís, seria bom vê-la. Nem sei se ela ministra curso, a não ser na Folha e no UOL.
Jorge, envie para mim também. Será que são as minhas aulas?