“Má-formação” ou “malformação”?
“Má-formação” ou “malformação”? A imprensa tem usado ambos os termos, um ou outro segundo a preferência de cada veículo de comunicação, para explicar à população o que é a microcefalia, anomalia com que podem nascer os filhos de mulheres que tenham contraído o vírus da zika durante a gravidez.
Vários leitores têm entrado em contato com a Folha para questionar a escolha da grafia “má-formação”, empregada pelo jornal. Não raro, afirmam tratar-se de um “erro” da Redação. Alguns chegam a reproduzir o verbete “malformação” do dicionário “Houaiss”, desconsiderando o fato de que o mesmo “Houaiss” traz também o verbete “má-formação”.
O que fazem os dicionários em geral é registrar ambas as formas, para o incômodo de muita gente. Diante desse tipo de situação, as pessoas querem saber, pelo menos, qual é a forma “melhor”. Difícil responder a isso, mas vamos aos dados.
Antes de entrar no caso específico dessas palavras, convém trazer à memória a distinção entre “mal” e “mau”. “Mal”, um advérbio, pode modificar verbos e adjetivos. “Mau”, um adjetivo, caracteriza substantivos (é por isso que dizemos que uma pessoa é mal-humorada, mas que tem mau humor). “Mal” não é o termo que caracteriza substantivos. Vale aqui lembrar a grafia de “mau-caráter” (adjetivo seguido de substantivo, formando um substantivo composto).
Ora, “formação” é um substantivo, motivo pelo qual seu modificador natural é um adjetivo. Sendo uma palavra feminina, o adjetivo “mau” vai também para o feminino, dando origem ao substantivo composto “má-formação”. É exatamente assim que se formam os substantivos má-fé e má-criação, por exemplo.
Ocorre, porém, que a grafia “malformação” já obteve o registro nos dicionários e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Houaiss a interpreta como depreendida de “malformado” (note que, antes de “formado”, o que cabe é mesmo o “mal”). De “malformado”, supõe-se um verbo “malformar”, do qual poderia vir “malformação”. Ao lado dessa explicação, temos outra hipótese: a influência do francês e do inglês, línguas em que se registra a grafia “malformation”. Como se trata de termo da medicina, é possível que estudiosos, lendo em francês ou em inglês, tenham incorporado o termo ao português de forma intuitiva.
Louve-se a explicação de Houaiss porque ela se estende à forma “malcriação”, já registrada também no Volp. O autor, no entanto, observa o seguinte: “caso não se admita esse padrão derivacional, malcriação estaria por má–criação”. Em outras palavras, Houaiss afirma que nem todos os gramáticos admitirão como válido o padrão derivacional que justifica as formas malcriação e malformação. Certamente os mais apegados à tradição hão de preferir má-criação e má-formação.
mau ,mal ; depende da situaçao e que cai o verbo , ou a esclamaçao ,ou interrogaçao; com cordo com ,Houaiss.
Luis Neri… Com seu grandioso português, ainda se atreve a comentar problemas ortográficos?
Podemos nos lembrar da regrinha prática de na dúvida trocarmos pelo oposto. Assim, mau ficaria bom, má ficaria boa; enquanto mal seria trocada por bem. E não parece ter sentido “Bem formação”.
Eu, particularmente, não gosto do termo “malformação”. Prefiro a forma tradicional e mais correta, no meu entendimento, má-formação. Parabéns pela explicação perfeita.
Excelente.
Ótima resposta.
Curta e objetiva.
Parabéns!!!
Srª Thaís Nicoleti!
Meus sinceros agradecimentos pela sua bela e didática aula.
Eu sou um encantado com mundo atual, podemos aprender
24 horas por dia e com um toque especial,
quando sentimos, que quem se dispôs realizar a
importante tarefa, colocou a alma e o coração na execução.
Muito obrigado!
Ótima explicação. Que não haja malcriados reclamando por aqui.
Professora, explicação clara, convincente. Parabéns!
Perfeito!
Como professora de Português sempre estranhei essa composição de formação com mal, considerando que a formação é má ou boa…