O caso do tríplex e do triplex

Thaís Nicoleti

Alguns leitores têm procurado a Folha para questionar o uso do acento na palavra “tríplex”, que consideram inadequado ou mesmo errado. final portugues na folha

Os argumentos dessas pessoas, alguns embalados em julgamentos do tipo “usar tríplex é tosco” ou “usar tríplex é mico”, em geral estão apoiados no fato de outros veículos da imprensa terem optado pela grafia triplex, que reflete a pronúncia oxítona, semelhante à de palavras como durex ou pirex.

Estas últimas, é bom que se diga, não chegaram ao português pelo latim, como aquela. São antes marcas comerciais que passaram a designar o objeto que fabricam, também chamadas “marcas genéricas”.

“Pyrex”, do inglês, sofreu alteração de grafia em português, tendo o “y” substituído por um “i”. A marca passou a designar qualquer recipiente de vidro refratário. “Durex”, a fita adesiva,  também é marca comercial. “Sedex”, por sua vez, o serviço de entregas dos Correios, é uma sigla de Serviço de Encomenda Expressa Nacional.

Antes de prosseguir, gostaria de deixar claro que as marcas mencionadas não são patrocinadoras do blog, muito menos da autora do texto. São mencionadas por serem todas muito conhecidas e, graças à sua aparente semelhança com palavras de origem latina, poderem ter influenciado a pronúncia de “tríplex” ou “dúplex” como oxítonas.

São poucas as palavras do português terminadas em “x”: látex, cálix, sílex, vórtex, dúplex, tríplex, multíplex, símplex, apêndix, cóccix, cérvix, ônix, hélix são algumas delas. Note que são todas paroxítonas e algumas delas têm uma variante terminada em “-ice”.

“Látex”, por exemplo, tem a variante “látice”, mas esta é bem menos usada que a primeira. Aliás, muita gente ainda pronuncia “látex” como oxítona (latex), ignorando o seu acento gráfico. Basta, no entanto, verificar a grafia da palavra no rótulo das latas de tinta de parede. Lá estará o acento de “látex”, apesar de ainda persistir a pronúncia popular “latex” (oxítona).

Grosso modo, pode-se dizer que “cálix” é menos usada que “cálice”, “sílex” é mais comum que “sílice”, “vértice” é mais frequente que “vértex”, “hélice” é mais usada que “hélix” e “apêndice” ganha a preferência sobre “apêndix”.

Como numerais, “dúplex” e “dúplice” alternam-se, e o mesmo vale para “tríplex” e “tríplice”. Como substantivo e adjetivo, prevalecem as formas “dúplex” e “tríplex”. Os leitores inconformados com a palavra que lhes soa de modo estranho alegam que ninguém diz “tríplex”. Se isso for mesmo verdade, o argumento não será desprezível, mas as coisas não são tão simples assim.

O outro argumento envolve os dicionários. Enquanto um leitor atribui à Folha certa subserviência acrítica ao que registra o dicionário “Houaiss”, quando, em vez disso, “deveria seguir o Vocabulário Ortográfico da ABL, pois a ABL é que manda”, outro afirma que o “Houaiss” traz a palavra sem acento.

O fato é que tanto os dicionários “Houaiss” e “Priberam” como o “Vocabulário Ortográfico”, da Academia Brasileira de Letras, registram as duas formas, “tríplex” (com acento) e “triplex” (sem acento).

A forma “triplex” (sem acento), aparentemente a mais comum nos textos de propaganda do mercado imobiliário, é registrada no “Houaiss”, mas seguida da advertência de que é uma forma não preferível de “tríplex” (com acento).

Menos condescendente, o “Aurélio” nem mesmo registra a forma sem acento – no verbete “tríplex”(com acento), observa que a palavra é comumente pronunciada como oxítona.  Na mesma linha, vai o “Aulete”, que, todavia, é bem menos sutil: só registra “tríplex” (com acento) e acrescenta que o termo se pronuncia erroneamente como oxítono.

A conclusão disso tudo é que cada veículo de comunicação fez a sua escolha. A Folha optou pelo respeito à norma-padrão do idioma, o que costuma ser apreciado pela maioria dos leitores, para os quais o jornal tem também uma função educativa. No mínimo, um mérito da escolha está em propiciar ao leitor o interesse em conhecer mais e melhor a nossa língua.

 

Comentários

  1. Obrigado pelo esclarecimento. Como a maioria dos telejornalistas pronunciam a palavra como oxítona, estava achando que a Folha é que estava errada, querendo “ser do contra” por puro capricho. Valeu!

  2. Muito educativo o texto. Parabéns à autora.
    Sem dúvida que é estranho a grafia tríplex, mas se é a correta, é a que deve ser usada.
    De qualquer forma, é menos estranho do que “presidenta”.

    1. Claudine, realmente me arrisquei a receber um comentário desse tipo quando pus a foto ali. Creio, porém, que, por se tratar de marca muito conhecida e, sobretudo, por usar o termo correto na embalagem, seria uma forma de chamar a atenção para o que estou explicando. Não seja tão revoltada com uma bobagem dessas, sua babona (rsrsrs)! 🙂

  3. Quer seja no Guarujá, ou reformado ou do programa “Minha casa, minha vida”, pelo menos temos o consolo de aprender a pronunciar corretamente o nome do imóvel…

  4. Thaís, não querendo parecer um chato, vai um pedido a você. Levando-se em conta que a coluna tem um nível de excelência indiscutível, não seria o caso de publicá-la 1 ou 2 vezes por semana? Você pode alegar falta de tempo, obviamente, mas nós, leitores, estamos ávidos por mais informações precisas sobre a língua portuguesa. Abs.

    1. Carlos, tomo seu “pito” como um elogio e prometo ser mais assídua. Sofro de falta de tempo, mas você tem toda a razão em sua queixa. Grande abraço 🙂

  5. Duplex e triplex são maneiras de falar às quais estamos acostumados devido ao exagerado uso das palavras da língua inglesa em nosso contidiano. Hoje tudo é expressado em inglês: Sale, online, recall etc. Ou ainda aportuguesadas: deletar, inicializar… No nosso vernáculo pátrio existem palavras que dizem o mesmo: apagar, iniciar, revoçação (ou chamada de volta), em linha (ou em ligação direta), à venda ou em liquidação.

  6. Thaís, parabéns pela aula! Também não imaginava o porquê desse acento já que, particularmente, nunca ouvi ninguém pronunciar tríplex como paroxítona.

    Todavia, abordando um tema semelhante, você que conhece bem os dicionários, deve ter percebido que a Folha, assim como tantos outros jornais, fazem questão de chamar a Dilma de “presidente” por pura birra, para não parecerem petistas, acham preferível discordar dos dicionários a concordar com um(a) petista. O fato me faz lembrar do que aconteceu nas nações majoritariamente protestantes, quando demoraram séculos a aceitar o Calendário Gregoriano pois, conforme se dizia, “preferiam discordar do Sol a concordar com o Papa.”

    E interessante, quando se fala em PT, a paixão sobe tanto na cabeça das pessoas, que muitos afirmam que a palavra presidente é inflexível, e insistem nisso sem sequer cogitar a hipótese de consultar o dicionário! É incrível.

    Se precisar fingir que discorda para proteger o emprego, fique tranquila, pois sei que isso é perfeitamente compreensível.

    1. José, cheguei a tratar desse caso de “presidenta” na minha coluna do extinto caderno Fovest, da Folha. Lá mostrei que esse feminino é correto e bem antigo (não foi inventado pelo PT!). A Folha optou pela forma “presidente”, que é comum de dois gêneros, mas, nos textos de opinião, bem como nas cartas de leitores, a forma “presidenta” pode, sim, aparecer no jornal. 🙂

    2. Caro Filipe, minha intenção não foi fazer nenhum tipo de propaganda. Meu blog tem finalidade educativa e eu jamais recebi dinheiro por esse trabalho. Fiz algumas modificações no texto, extraindo a imagem, que, creio eu, deve ter sido o que mais o incomodou. Não pude, no entanto, deixar de mencionar outras marcas comerciais (as marcas genéricas), que também não estão pagando nada ao blog ou a mim, mas servem ao raciocínio que me propus fazer.

  7. Thaís, receba um tríplex parabéns ! Há muito não lia uma análise vernácula tão aprofundada, dissecada e embasada como a sua, que saboreei a cada linha. Tiraria o chapéu, se usasse um 😉
    PS1: Não vi a foto da lata de Látex, mas me pareceu um ótimo exemplo. É claro que alguns críticos de plantão, na falta do que fazer, irão se agarrar a ela, mas você poupou o tempo do leitor em conferir.
    PS2: Apoio a sugestão do Carlos Marques: mais Thaís Nicoleti tornaria a Folha mais educativa !

    1. Paulo, removi a imagem da lata de tinta. Há inúmeras dessas imagens na internet. Realmente pretendi facilitar a vida do leitor, poupando o seu trabalho de verificar em outro lugar. Paciência. 🙂

  8. Excelente o esclarecimento, parabéns.

    Quanto aos leitores que mencionaram a questão de uma “suposta” “propaganda”, será que nunca utilizaram, ao menos uma vez na vida, expressões como: gilete, cotonete, bandaid, xerox, calça de lycra, maisena, modess, aspirina, bombril, danone, pinho sol, para ficar somente com algumas? Tratam-se, pois, de metonímias, uma figura de linguagem pertencente à nossa gramática.

    1. Edson, coisas que professores podem fazer naturalmente na sala de aula (por exemplo, pedir aos alunos que verifiquem a grafia das palavras nos rótulos de produtos), na internet são motivo de desconfiança. Acho isso tudo um pouco exagerado. E o pior é que há tantas coisas a comentar sobre os rótulos, campanhas publicitárias…

  9. Parabéns. Eu falo trí. Só um reparo no argumento: “Basta, no entanto, verificar a grafia da palavra no rótulo das latas de tinta de parede. Lá estará o acento de “látex”, apesar de ainda persistir a pronúncia popular “latex” (oxítona)”. Não é válido, pois não me rejo pelo que está escrito em latas de tinta. Todos os dias consulto várias vezes o dicionário Aurélio; tenho o cuidado de anotar as palavras de que não sei o significado, enfim, tento ter uma coexistência pacífica com a língua portuguesa. E que tal, me fazer o favor e corrigir meu texto. Obrigado!

    1. Joaquim, é evidente que as pessoas devem consultar os dicionários e o VOLP para saber a grafia das palavras. A menção ao rótulo visa a mostrar que a grafia certa pode estar inserida no dia a dia das pessoas, nas coisas que elas veem mesmo quando não estão estudando. Não era um “argumento”, era uma ilustração, um exemplo. 🙂

  10. Muito interessante, Thaís (com acento, mesmo tendo origem estrangeira kkk). Apesar de a dúvida da população ser em relação a quem está querendo dar um golpe, se a situação, com suas centenas de nomes citados em investigações ou a oposição ao governo, com menos nomes, que somente se declara “salvadora do povo” e “solução da crise”, sempre devemos ter esse cuidado de respeitar as normas da língua, com a finalidade de melhor nos expressarmos e minimizar ao máximo as interferências na comunicação. Abraço.

  11. Uma rede de televisão gosta de insistir em enunciar a palavra “Catéter”, quando se trata, na realidade de Cateter (tér).

    Dicionários, vendidos nas melhores livrarias, trazem “A-brup-to”, quando se trata de Abrupto=Ab-rup-to.

    Outros dizem: “Gratuíto”, quando se trata de Gratúito, Intúito, Fortúito.

    Outros confundem Flúido com Fluído.

    1. E de onde vc tirou que se pronuncia ab-rupto, se todos os dicionários dizem o contrário? Convém não acreditar demais em lendas urbanas da Internet…

      1. Quem propaga lendas urbanas na internet não sou eu. Você nunca ouviu falar na pronúncia “ab-rupto”? Existe até o registro da grafia hifenizada no VOLP.

  12. De fato, a argumentação que tentou usar a autora na postagem acima revela uma ignorância linguística assustadora. Se toda a população pronuncia tripléx, que raios importa se outras palavras terminadas em x são oxítonas? Que argumento sem sentido é esse? Se a autora reparar, TODAS as palavras terminadas em -ol no português fazem plural em -óis ou -oles. Só há uma exceção: gol. Pela “lógica” da autora, isso não pode, portanto. Por que não sugere ela que a Folha passe a usar góis em vez de gols? Aliás, acabo de ver que essa é a mesma “consultora” que orientou a Folha a pagar o mico de começar a colocar acento em Fla-Flu, expressão que nunca levou acento em português, porque acha ela que descobriu a pólvora ao ter aprendido na gramatiquinha que monossílabos em a levam acento. E dane-se um século de tradição da palavra, e dane-se que o acento não tem nenhuma utilidade no caso, pois não afeta a pronúncia brasileira, e a expressão só se usa no Brasil. Ai, amiga, melhore, ou pede pra sair.

    1. Mari, de fato, nada mais precisa ser dito depois desse seu arrazoado pseudointelectual. Boa sorte.

  13. A autora não respondeu à questão de que absolutamente ninguém fala tríplex. A escrita da Folha causa sim estranheza e riso, pois é pedantismo puro. A palavra não nos chegou do latim, por favor – não havia apartamentos triplex no Império Romano. E é falso que o Dicionário Aulete não registre triplex e diga que tríplex é o correto: veja aqui: http://www.aulete.com.br/tr%C3%ADplex,%20triplex a doutora deve ter-se atrapalhado na pesquisa, antes de dar essa tão douta orientação à Folha de usar uma pronúncia tão chiquê.

    1. André, em qual pesquisa acadêmica você se baseou para dizer que “absolutamente ninguém” fala “tríplex”? Fale do jeito que você quiser. Você deve falar “latéx” também, o que é um direito seu.

  14. A pseudoargumentação da autora revela uma ignorância linguística assustadora. Se toda a população pronuncia tripléx, que raios importa se outras palavras terminadas em x são oxítonas? Que argumento sem sentido é esse? Se a autora reparar, TODAS as palavras terminadas em -ol no português fazem plural em -óis ou -oles. Só há uma exceção: gol. Pela “lógica” da autora, isso não pode, portanto. Por que não sugere ela que a Folha passe a usar góis em vez de gols? Aliás, acabo de ver que essa é a mesma “consultora” que orientou a Folha a pagar o mico de começar a colocar acento em Fla-Flu, expressão que nunca levou acento em português, porque acha ela que descobriu a pólvora ao ter aprendido na gramatiquinha que monossílabos em a levam acento. E dane-se um século de tradição da palavra, e dane-se que o acento não tem nenhuma utilidade no caso, pois não afeta a pronúncia brasileira, e a expressão só se usa no Brasil.

  15. A autora da página citou o Houaiss e o Aurélio, mas o Dicionário da Academia Brasileira de Letras (o dicionário mesmo, não é nem o vocabulário) dá triplex como preferida. Assim como a da Academia portuguesa. Porque não faz sentido escrever o que ninguém fala. O fato de ser “quase todas as outras palavras terminadas em x em português serem paroxítonas” é irrelevante; todas as palavras terminadas em -ol em português têm plural em -óis ou -oles – todas, exceto uma: gol. A língua é assim. Muito provavelmente o próximo Houaiss ou o próximo Aurélio (as últimas edições de ambos são da década passada já, muita coisa muda em 10 anos) registrarão triplex como forma mais usual.

  16. Por que meu comentário anterior não aparece aqui? Comentários que discordam do argumento da autora são proibidos de aparecer para os demais?

  17. Bem, como a autora do blogue censura quem discorda dela e não me deixa publicar aqui, só me resta ir zoá-la e apontar os erros desta postagem (triplex veio do latim, amiga? Jurava que tinha vindo do inglês no séc passado, mas to rindo aqui imaginando Cesar em seu apartamento de 3 pisos) e vou fazê-lo em site frequentado por gente que debate a língua a sério e nenhuma opinião é censurada: olhem aqui meu comentário sobre vc, Thais, em https://dicionarioegramatica.com.br/2016/02/18/triplex-ate-as-academias-recomendam-triplex/comment-page-1/#comment-1209

    1. André, só vejo agora a sua nada gentil mensagem. Não estou censurando ninguém. Na verdade, não tinha visto sua mensagem. O significado latino da palavra é o mesmo de tríplice. O uso para apartamentos de três andares deve mesmo ser recente, mas a palavra é a mesma, é a ideia de “três” que está presente aí. Você parece orgulhar-se de sua falta de educação, mas não creio que isso faça todo o sucesso que você está imaginando. Boa sorte!

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