Sobre os acentos diferenciais
É voz corrente que, depois do acordo ortográfico de 1990, os acentos diferenciais foram abolidos. A história não é bem essa. Alguns foram mantidos. Vamos pôr (com acento!) ordem nesse caos.
A maior parte dos diferenciais foi de fato extinta. Não se distinguem mais graficamente o substantivo “pelo”, a contração de preposição com artigo “pelo” e a forma verbal “pelo” (do verbo “pelar”), por exemplo. O mesmo vale para “pela” (contração de preposição com artigo ou forma verbal).
Assim:
A forma do verbo “pelar” (“tirar a pele de”, entre outros sentidos) perdeu o acento:
As contrações da preposição “por” com os artigos definidos (o, a, os, as) continuam sem acento (pelo, pela, pelos, pelas). Assim:
O acento diferencial do substantivo “pera” (nome da fruta) também desapareceu. Assim:
Pouco usada, a palavra “pera” (com “é”), sinônimo antigo de “pedra”, também perdeu o acento. Assim:
A palavra “polo”, em todas as suas acepções, perde o acento. Assim:
O esporte também chamado “polo” perde o acento. Assim:
Da mesma forma, perde o acento o termo “polo” que, por extensão, designa o modelo de camiseta semelhante ao usado pelo jogadores de “polo”. Assim:
O polo aquático já é um esporte olímpico. Escreve-se sem acento. Assim:
POLÊMICA
Talvez o mais lamentado dos acentos diferenciais extintos seja o da forma verbal “pára”, agora grafada exatamente como a preposição “para”. Os jornalistas ficam muito insatisfeitos quando querem criar manchetes do tipo “Manifestação para rodovia”, em que “para” é a forma do verbo “parar”. Ainda assim, com a ajuda das editoras, as pessoas tendem a acostumar-se à nova grafia.
« ― E Maria não vai com as outras?»
« ― Maria não vai com as outras porque não é maria vai com as outras.»
Esse diálogo de aparência surreal está gramaticalmente correto, não é Thaïs?
« ― Você viu Maria, outra vez sentada em cima do muro?»
« ― Maria, sem vergonha! Até parece maria sem vergonha.»
Estoutro também, não é Thaïs?
Os luminares que bolaram o AO90 se exceleram. Há mais desatinos entre céu e terra do que sonha nossa vã ingenuidade tupiniquim.
Estão corretos, mas os hifens não fizeram tanta falta assim, pensando bem. Abraços
Estou dislumbrado com o que apredi em poucas horas lendo essas publicações. Muito bom!!!
Isso de se acostumar à nova grafia me lembra de uma antiga propaganda de bebida, em que a mensagem parecia dizer: é ruim, mas você se acostuma…
Mas qual a lógica para manter o acento diferencial no verbo “pôr” e tirá-lo de “p(á)ra”?
Muito bom! Sou concurseiro e esse blog é ótimo para aumentar meu conhecimento. Um grande abraço!
Interessante, mas agora fiquei curioso! Quais palavras sobreviveram à nova regra e por quê?
Boa noite professora.
Estou querendo comprar o livro “O Uso da vírgula”, mas não o encontro em nenhum site.Como devo proceder?
Obrigada
Luana, querida, você pode encontrá-lo no site da Livraria da Folha: http://livraria.folha.com.br
Grande abraço
Thaís
Ual! Me ajudou bastante
Ual! Muito bom !